Título: "Havia um grampo na secretaria"
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2006, Metrópole, p. C1

Mal havia tomado posse na Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Antônio Ferreira Pinto, de 62 anos, se deparou com o primeiro grande pepino. Não se tratava de nenhuma nova ação espetacular do Primeiro Comando da Capital (PCC), mas de um esquema de escuta clandestina na sede da SAP. A descoberta foi feita depois que Ferreira pediu uma varredura nas linhas telefônicas da secretaria ao Departamento de Inteligência Policial (Dipol). O alvo da espionagem era o delegado Osvaldo Arcas, responsável pela ligação entre a SAP e a Secretaria da Segurança Pública.

A principal suspeita é que o esquema de escuta fizesse parte de disputas internas na própria SAP. Estaria ligado à rivalidade entre o secretário da Segurança, Saulo Abreu, e o ex-secretário dos presídios Nagashi Furukawa. A revelação foi feita por Ferreira em entrevista ao Estado, a primeira desde sua posse, há um mês. Nela, o secretário conta seus planos para combater o crime organizado, com aumento do controle sobre os presos e o fim de regalias, restabelecendo o "princípio da autoridade" na SAP, que diz ter encontrado "esgarçado".

A revelação do grampo ocorreu quando o secretário respondia a uma pergunta simples sobre como era sua relação com o secretário Saulo, uma vez que essa foi uma das maiores dores de cabeça do antecessor Furukawa. A resposta começou protocolar: o entrosamento era "perfeito". Mas prosseguiu. "Essa é uma situação que eu não achei quando cheguei. Eu encontrei até grampo telefônico aqui no gabinete do delegado de polícia, que fazia o elo entre a SAP e a Secretaria da Segurança Pública e requeri inquérito para apurar as responsabilidades." O inquérito foi aberto no 9º Distrito Policial.

Ferreira disse que "cabe à polícia apurar" o responsável pelo grampo. "Mas realmente havia uma escuta clandestina na linha telefônica do delegado que servia de ligação entre as secretarias, o que mostra que o diálogo era absolutamente inviável."

A entrevista prosseguiu:

- Quer dizer, secretário, que, em vez de tentar saber o que o PCC estava fazendo, ficavam por aqui um tentando saber o que o outro estava fazendo?

- Da parte da Secretaria da Segurança Pública não, mas que havia aqui uma predisposição para saber o que o delegado de polícia conversava com a Segurança Pública é inequívoco. Esse é um fato extremamente grave. Merece ser apurado e os responsáveis, punidos.

O ANTECESSOR

Ao Estado, Furukawa disse que tomou conhecimento do grampo após ele ser descoberto pela nova gestão. Segundo ele, seu secretário-adjunto, Clayton Nunes, tinha uma linha direta em seu gabinete, que passou ao delegado Arcas, quando este chegou à secretaria em março. "Foi nessa linha que estava o grampo". Furukawa diz não ter idéia de quando - ou por quem - foi feito o grampo e com qual interesse . "Fiquei estarrecido quando soube."