Título: PF prende policiais que boicotavam inquéritos
Autor: Marcelo Auler
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Nacional, p. A4

A Polícia Federal prendeu ontem 17 pessoas, entre elas dois de seus ex-superintendentes, Jairo Helvécio Kullmann - que comandou todo o efetivo da corporação no Rio entre 1995 e 1999 - e José Milton Rodrigues - que dirigiu a divisão fluminense do órgão de 2004 a 2006. Também foram detidos na chamada Operação Cerol outros quatro delegados federais, um agente e um escrivão da PF, um advogado e fiscal do INSS, seis advogados - entre eles um diretor da cervejaria Petrópolis - e dois empresários, diretores da empresa de vigilância Vigban.

Todos são acusados de fazer parte de um esquema de corrupção que, segundo a PF, favorecia particulares e cometia crimes contra a administração pública e a Justiça. Os policiais federais são acusados de favorecerem os empresários e advogados em seus inquéritos e investigações. Um exemplo: o delegado Mauro Montenegro, ao assumir a Delegacia Previdenciária, teria distribuído os inquéritos que envolviam a empresa Vigban para os delegados de sua confiança, como Jorge Almeida; com isso, retardavam o andamento das investigações ou arquivavam o inquérito.

Em um desses casos, a dívida da empresa de vigilância com o INSS constava como paga. Os responsáveis pela Operação Cerol acham que foi o fiscal Clovis Pfaltzgraff quem conseguiu a certidão negativa de débito para permitir ao delegado o arquivamento do caso.

No caso do diretor da Cervejaria Petrópolis, Paulo Henrique Vilela Pedras, os favores prestados pelos policiais lotados na Delegacia de Crimes Financeiros eram nas investigações de sonegação fiscal.

A PF ainda não conseguiu contabilizar todo o dinheiro e a quantidade de favores envolvidos no sesquema. O superintendente da PF no Rio, Delci Teixeira, explicou que em apenas um dos casos a promessa de pagamento chegava a R$ 50 mil. Para não prejudicar as investigações, o Ministério Público e a PF só vão pedir a quebra dos sigilos bancários agora que as prisões foram feitas.

Um indício de tráfico de informações teria sido encontrado, segundo a PF, na casa do advogado Tarcísio de Figueiredo Pelúcio, no bairro da Tijuca. Além de US$ 30 mil, policiais acharam um memorando da Delegacia de Crimes Financeiros com números de telefones grampeados pelas investigações da própria Operação Cerol. Tinha ainda a cópia de um bilhete manuscrito por Pelúcio para o ex-superintendente Rodrigues, alertando-o de que "uma devassa" estava para ocorrer na Superintendência. Rodrigues, durante seu interrogatório, ao ver o bilhete passou mal.

O ex-superintendente Kullmann, que desde a exoneração do cargo estava afastado da polícia, é acusado de favorecer uma empresa, atrasando depoimentos. Em troca ele receberia uma TV de 32 polegadas. Ontem, uma TV de plasma foi apreendida, mas a polícia não confirmou se era do delegado.

A investigação foi feita com base em escuta telefônica, a partir de denúncias à Justiça feitas por um agente da própria PF, Heródoto Dorta, réu em outros processos, que optou pela delação premiada. Os presos deverão ser denunciados à Justiça por crimes como corrupção passiva e ativa, prevaricação, facilitação ao descaminho (permitir o ingresso no país de produtos sem pagamento de impostos), quebra de sigilo funcional e formação de quadrilha.