Título: Heloísa Helena apela para raízes sertanejas no NE
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Nacional, p. A7

Em campanha na Paraíba ontem, a candidata do PSOL à Presidência, Heloísa Helena, valeu-se de duas posturas para angariar votos de públicos distintos. Pela manhã, em Campina Grande, a 135 km da capital João Pessoa, ela explorou sua origem humilde no sertão nordestino para se colocar como igual aos que paravam na Praça da Bandeira, para ouvi-la. "Sou mesmo uma sertaneja que ama o Nordeste e o Brasil", disse, logo de início. "Sou filha do sertão do Alagoas, de mãe costureira que trabalhou dia e noite para que eu, com luta e esforço, estudasse e vencesse na vida. Sou como todas vocês, uma sertaneja que luta." À tarde, em João Pessoa, diante de uma fervorosa militância, intercalou duras críticas ao governo e propostas radicais de política econômica.

Em Campina Grande, Heloísa atacou seus dois principais adversários, Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente Lula (PT), mas focando o uso eleitoral da região com medidas assistencialistas. "Esses dois candidatos que são tão poderosos e se acham donos do Brasil, vejam que ousadia a deles em dizer que o nosso querido Nordeste é um curral eleitoral deles", prosseguiu. "Entregam migalhas enquanto deveriam entregar investimentos na agricultura, na educação, saúde, segurança pública."

Segundo a senadora, seus rivais estariam preocupados com seu crescimento nas pesquisas e isso os levaria a adotarem golpes baixos contra ela. "Eles mentem muito", atacou.

Sem a costumeira militância puxando gritos de campanha na caminhada, Heloísa andou sem o corriqueiro estardalhaço em Campina Grande e mesmo assim foi constantemente abordada.

Na hora do discurso, não recusou o microfone, mas negou os pedidos dos correligionários e não subiu no trio elétrico: puxou um banquinho plástico para falar com o povo bem perto dela. Ao final o espaço ficou pequeno. Provocou risos ao garantir que iria para o segundo turno. "Não sei se vou para o segundo turno com o chuchu ou com o rei da abobrinha, só sei que eu vou", disse, pouco depois de propagar que está cumprindo o papel de "pimenta" na campanha.

Na caminhada em João Pessoa, já cercada pela militância, gritos de elogio à sua coerência histórica e brincadeiras com o mensalão, sanguessuga e dólares na cueca. Com o novo público, Heloísa decidiu subir no caminhão de som para falar e, dedo em riste, propôs o corte drástico de juros e aumento de gastos públicos, "contra o neoliberalismo de FHC e de Lula".

O tom de voz e das críticas subia conforme a reação da platéia. Chamou os adversários de "prepotentes", de "gentalha" e promotores de "orgias sexuais com o dinheiro público" e avisou os "parasitas sem pátria que são os banqueiros" que devem temer sua candidatura.

Na capital da Paraíba, Heloísa incluiu "socialista" na declaração de que seria "a mulher, mãe e trabalhadora que vai arrancar as cercas dos currais eleitorais no Nordeste".