Título: Israel chama reservistas e deve invadir
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Internacional, p. A14

Israel convocou ontem 6 mil reservistas, segundo a TV CNN, e concentrou um grande contingente de tanques e outros veículos blindados perto da fronteira libanesa, preparando-se para ampliar sua invasão terrestre do Líbano. Atualmente há cerca de 2 mil soldados realizando operações no extremo sul libanês - segundo fontes militares. Eles rastreiam a região à procura de túneis e depósitos de armas do grupo xiita Hezbollah.

Uma invasão em massa é iminente, informou ontem a TV americana NBC News, citando ¿fontes no setor de inteligência¿. O Exército também pediu na quarta-feira que a população do sul libanês saia da região. Apesar dessa ampla movimentação, oficiais do Exército israelense insistiram que a operação será limitada e ¿específica¿. Serão atacados apenas alvos seletivos, afirmaram. ¿Não esperem uma incursão de grande escala no Líbano¿, disse um oficial, sob anonimato. ¿Já estamos no interior do Líbano e as tropas continuarão atuando ali porque essa é a única maneira de agir contra os bunkers do Hezbollah na zona.¿

O Ministério da Defesa do Líbano advertiu que, se houver invasão terrestre e ocupação de território, vai reagir, o que pode escalar o conflito para uma guerra aberta entre Estados (ler abaixo). Por enquanto, só o Hezbollah - que controla o sul do país, de maioria xiita - combate as tropas israelenses.

Os dez dias de bombardeios intensos no Líbano aparentemente não surtiram o efeito esperado por Israel, que sustenta ter destruído mais de 50% da capacidade militar do Hezbollah. De acordo com a revista de análise militar britânica Jane¿s Defense Weekly, o grupo xiita adota uma tática militar semelhante à dos vietcongues durante a Guerra do Vietnã e construiu uma rede de túneis, ¿o que o torna um um temível adversário para o Exército israelense¿, um dos mais bem equipados e treinados do mundo. Na quinta-feira, quatro soldados israelenses morreram em confrontos com combatentes do Hezbollah num povoado libanês perto da fronteira israelense (inicialmente o Exército confirmou apenas duas mortes).

Desde o início do conflito morreram 350 libaneses e 34 israelenses (19 soldados e 15 civis). Quase 1.600 pessoas ficaram feridas (1.350 libaneses e 231 israelenses). O ministro da Cultura do Líbano, Tariq Mitri, informou que um terço dos mortos libaneses eram menores de idade e 23, soldados do Exército (uma base militar foi atacada). Mitri disse que o restante era civil, mas o Exército de Israel estima ter matado mais de cem militantes do Hezbollah. Israel iniciou os bombardeios no Líbano depois que militantes do Hezbollah invadiram seu território, no dia 12, e capturaram dois soldados. Outros oito morreram em enfrentamentos. Depois, o grupo passou a lançar foguetes e mísseis contra cidades do norte de Israel.

A aviação e os navios de guerra israelenses impuseram, então, um bloqueio por mar e ar ao Líbano e vêm bombardeando cidades em várias regiões, onde alega haver bases do Hezbollah. Pelo menos quatro libaneses morreram ontem em Baalbek e Tiro. Israel também despeja bombas sobre a principal estrada entre Beirute e Damasco. Mais de 500 mil libaneses fugiram de suas casas.

Ontem, os foguetes do Hezbollah voltaram a atingir Haifa e outras cidades israelenses, ferindo 19 pessoas (ler na pág. 15). Na quinta-feira Israel permitiu a abertura de um corredor humanitário terrestre e marítimo para garantir a saída de milhares de cidadãos de outros países ou libaneses de dupla nacionalidade.