Título: No day after, confusão nos guichês
Autor: Mônica Ciarelli e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

No dia em que a Varig amanheceu com um novo dono, os passageiros da companhia viveram momentos de total desorientação nos aeroportos do País. Andavam praticamente sem rumo, de fila em fila, tentando encontrar alguém que pudesse lhes prestar uma informação que fosse confiável. Estavam cansados de falsas previsões. "Isso é o caos", disse a jogadora de vôlei Selma Brandão, que tentava retornar para a Espanha com o marido.

Os funcionários da Varig pareciam não saber o que fazer, davam informações desencontradas ou simplesmente lavavam as mãos. Com a educação e a gentileza que lhes é tradicional, diziam aos passageiros: "O problema é de vocês." A loja de passagens e as salas da gerência da companhia no Aeroporto de Guarulhos estavam fechadas. Um aviso sobre a suspensão dos vôos estava nas portas, com um pedido de desculpas.

O escritório da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), onde os passageiros registram reclamações e buscam ajuda, teve um dia movimentado ontem. Para amenizar o "fenômeno Varig", a agência reforçou o efetivo em São Paulo com funcionários de outros Estados. Mas, em muitos casos, o máximo que puderam fazer foi ouvir o lamento dos passageiros.

A peruana Maribel estava aos prantos, com as duas filhas pequenas agarradas às pernas e olhando assustadas para ela, quando ouviu de um dos fiscais da Anac que não teria como viajar. "Não posso mais esperar, não posso ficar nem mais um minuto aqui porque tenho um familiar à beira da morte em meu país", disse, soluçando.

Maribel saiu de Milão, onde mora, há cinco dias, num vôo que fez várias conexões. Ontem, era uma das que andava sem rumo pelo aeroporto de Guarulhos. TAM e Gol não voam para Lima. As companhias Aero México, Lan Peru e Lan Chile, que seriam as únicas alternativas, não estavam endossando passagens da Varig. Para os funcionários da Anac, um caso, por enquanto, impossível de solucionar.

A família Tessaro, do Rio Grande do Sul, encontrou uma saída nada animadora para se livrar do caos do aeroporto. Em vez de embarcar para a viagem dos sonhos para a Europa, voltou para seu Estado. Alguns passageiros, que deveriam ter viajado na manhã de ontem para Miami ou Frankfurt receberam a notícia, no início da tarde, que a Varig voaria para esses destinos até o final do dia.

No aeroporto de Congonhas a decisão da Anac, de rejeitar o pedido da VarigLog para suspender vôos nacionais e internacionais era totalmente ignorada até o início da noite. No balcão de embarque e na loja da Varig os funcionários continuavam informando que os vôos da companhia estavam todos suspensos até o fim do mês. Na pequena sala da Anac no aeroporto de Congonhas também ninguém sabia de nada.

Em contraste com os balcões de outras companhias aéreas, repletos de filas, o da Varig anunciando apenas vôos para o Rio estava quase vazio. A promoção de vôos a R$ 199 para a ponte aérea parecia não ser um atrativo forte. A maior parte das pessoas que procuravam a companhia era para endossar passagens canceladas nos mais variados vôos. O comerciante Carlos Queiróz, com a irmã e dois sobrinhos, havia voltado de Nova York na noite anterior, desembarcado em Cumbica e ontem tentava ainda arrumar passagens para Fortaleza.

"Em Guarulhos pediram para que nós viéssemos para Congonhas tentar um endosso em outra empresa. Estou numa lista de espera para amanhã. Já gastei R$ 600 de táxi e alimentação, fora o hotel , e até agora nada", disse. "Eles chutam a gente que nem bola para lá e para cá." O professor Alexandre Soares, sentado num canto, aguardava o um vôo para Curitiba e era o retrato do desânimo. "Sou o 23º de uma lista de espera de um vôo de uma companhia que pode ser a Gol ou a TAM."