Título: 'Melhor é ser deportado'
Autor: Mônica Ciarelli e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

A proposta é absurda, mas um grupo de chilenos, surpreendido ontem com o cancelamento de um vôo da Varig para Santiago, garantiu que um funcionário da empresa sugeriu a deportação para fazê-los chegar mais rápido ao destino. Apoiados nos carrinhos de bagagem ou sentados no chão, eles aguardaram dez horas pela solução do problema.

Eles não foram os únicos a sofrer com o cancelamento dos vôos no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, do Rio de Janeiro. Grupos de brasileiros e estrangeiros com viagem marcada para o exterior tentaram, em vão, encontrar um lugar em outras companhias aéreas. Os vôos para destinos no Brasil estavam lotados. Quem conseguiu embarcar teve de esperar muito.

A história dos chilenos é exemplar do tipo de problema enfrentadopelos passageiros ontem. Os 13 chilenos chegaram ao aeroporto às 4h da manhã, certos que viajariam às 7h. Sete horas depois, ainda desconheciam o dia e o horário da partida.O médico Pedro Vazquez, de 39 anos, reclamou do atendimento. ¿Quase não fizeram nada até a chegada da imprensa. Um funcionário sugeriu a deportação, mas não queremos isso. Estamos há horas aqui, sem receber um copo de água. É intolerável¿.

Após o meio-dia, a Varig ofereceu lugares no vôo da TAM, às 22h do dia seguinte, para Buenos Aires. Gastos com hospedagem e alimentação seriam bancados pela Varig. Mas a companhia não pagaria o trecho da Argentina para o Chile.

¿Isso não é justo¿, reclamou o engenheiro Alexander Cabrera, de 30 anos. Diante do impasse, a agência de viagem chilena Falabella, que trouxe o grupo ao Brasil, decidiu comprar a passagem para Santiago.

¿A Varig não dá uma solução. Como estão viajando sob nossa responsabilidade, compramos os bilhetes¿, disse Jorge Maia, funcionário da agência, surpreso com o preço cobrado pela TAM: US$ 700 por passageiro. ¿Esperava gastar US$ 250¿.

A Varig disse que nenhum funcionário está autorizado a falar pela empresa e classificou o comentário de deportação como um fato isolado.

Outros passageiros também se queixaram de terem de pagar mais caro nas concorrentes da Varig. O engenheiro aposentado, Gilberto Oberhofer, de 73 anos, reclamou dos preços. ¿As outras companhias, `muito amigas¿, aumentaram os bilhetes¿, disse. Sentado no chão, ao lado da mulher Corina, que dividia o espaço de um carrinho com os volumes de bagagem, Oberhofer não reclamou do desconforto.

¿Tudo isso que estamos passando vai valer a pena se, mais adiante, a Varig voltar a ser a empresa de antes¿, disse o engenheiro.