Título: No encontro com Evo, paz e silêncio sobre o preço do gás
Autor: denise Chrispim Marim e Mariana Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem selar a paz com o colega boliviano, Evo Morales, cujas relações andavam estremecidas por causa da nacionalização do gás na Bolívia. Lula convidou Evo a visitar o Brasil no dia 20 de setembro.

Na visita, ambos deverão voltar a discutir o projeto conjunto de construção de um pólo gás-químico, além da cooperação para controle da febre aftosa na fronteira e a construção de uma rodovia que atravessará a Bolívia e permitirá o escoamento de produtos brasileiros por portos do Oceano Pacífico.

Lula, entretanto, deixou claro a Evo que não negociará questões ligadas à exploração e aos preços do gás boliviano. "Não é assunto do presidente, por enquanto", resumiu. A Evo interessa uma negociação entre governos e não entre empresas, que abriria brechas à inserção de variáveis políticas que tenderiam a favorecer a Bolívia.

As negociações entre a Petrobrás e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) prosseguem sem sinais de entendimento e deverão se esgotar em 1º de outubro. Na terça-feira, o governo boliviano iniciou auditorias na Petrobrás e em mais oito empresas de gás e petróleo presentes no país.

Questionado pela imprensa se considerava "ótimas" as relações entre o Brasil e a Bolívia, Lula disparou: "Igual com vocês, muito boas".

Nas exposições dos presidentes do Mercosul, do Chile, da Bolívia e de Cuba, Lula não disfarçou o mau humor quando Hugo Chávez, da Venezuela, mencionou a questão do gás da Bolívia. Para o governo brasileiro, boa parte da crise teve influência de Chávez.

ITAIPU

Em encontro, na noite de quinta-feira, com o presidente paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, Lula prometeu analisar a situação da Hidrelétrica de Itaipu. O Paraguai pediu a retirada de um termo do tratado da construção da usina binacional que, segundo Duarte, representa uma "dupla indexação" da dívida do Paraguai com o Brasil.

Segundo o ministro da Fazenda , Guido Mantega, o Paraguai não propôs só a revisão do acordo de construção e comercialização da energia de Itaipu. Com isso, ele deixou claro que o governo brasileiro não permitirá alterações na fórmula de reajuste da dívida paraguaia,resultante da parcela do Paraguai na usina que foi coberta por um empréstimo brasileiro.

Qualquer mudança resultaria em aumento no preço da energia exportada pelo Paraguai ao Brasil, o que elevaria os custos para consumidores brasileiros. Mantega disse que uma nova reunião deverá ocorrer na próxima semana. "Mas não é para rever o tratado, é só para atender parte das reivindicações paraguaias, que não tem a ver com revisão", disse. Segundo o vice-chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, o Brasil ficou de fazer uma proposta em breve.