Título: Fidel e Chávez querem região unida num 'socialismo latino-americano'
Autor: Denise Chrispim Marin e Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Economia & Negócios, p. B6

Os presidentes Fidel Castro, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela, foram as grandes estrelas da cúpula alternativa ao Mercosul ou, a "cúpula dos povos", realizada ontem à noite na Cidade Universitária, no centro de Córdoba, com o lema "A integração é nossa bandeira antiimperialista".

Os dois convocaram os povos dos países da região a implementar um "socialismo latino-americano".

Diante de quase 20 mil pessoas, Chávez, o primeiro orador, declarou que "o império americano está no fim" e que "o século 21 marcará sua morte". Exaltado, disse que os povos latino-americanos precisam "quebrar os esquemas do imperialismo".

Segundo o presidente venezuelano, " o império americano será como disse Mao Tsé-tung, um tigre de papel, e nós seremos um tigre de aço".

"O capitalismo semeia os antivalores do individualismo, é a causa das guerras, das misérias, da fome, das grandes desigualdades sociais", afirmou Chávez.

O presidente venezuelano aproveitou a ocasião para anunciar que no dia 6 de agosto, na posse do novo parlamento da Bolívia, haverá um jogo de futebol entre um time do governo do presidente boliviano, Evo Morales, e do governo do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Chávez, convidado de Evo, disse que jogaria do lado boliviano, e prometeu que o time vencerá de 5 a 0 o grupo brasileiro.

FIM DO CAPITALISMO Fidel, já sem o elegante terno que havia usado pela manhã, na cúpula dos presidentes do Mercosul (ler ao lado), ostentou seu tradicional uniforme verde, de comandante da Revolução, mais adequado ao público de universitários e líderes sindicais argentinos.

O líder cubano encerrou o evento pedindo o fim da fome e do analfabetismo na América Latina, e acusou os Estados Unidos dos males do mundo.

Fidel, que saltou de um assunto a outro durante seu discurso, até falou sobre o aquecimento global: "Vejam só como está o clima aqui, em Córdoba, no sul da América do Sul, em pleno inverno, um calor de mais de 26 graus. Essa é a prova da mudança climática".

Fidel disse que seu cálculo sobre o fim do capitalismo era mais otimista que o de Chávez. "Falar que o capitalismo vai acabar no século 21 pode dar a entender que vai durar todo o século. Mas eu acho que não dura 100 anos, nem 70, nem 50 anos. Vai acabar bem antes. É que o mundo vive uma crise, neste momento, como nunca antes vimos na História.".

Com gritos de "Hasta la victoria siempre!" (Até a vitória, sempre!), lema da Revolução cubana, Fidel foi saudado pela multidão em frenesi.

MATUSALÉM Fidel, em uma conversa com jornalistas venezuelanos, ironizou as notícias que aparecem indicando uma grave deterioração de sua saúde: "Eu estou morrendo quase todos os dias". Segundo ele, "de verdade, sinto-me muito bem". O líder cubano, que fará 80 anos no dia 13 de agosto, afirmou que terá "um décimo da idade de Matusalém". No entanto, afirmou que se sente calmo em relaçào à morte: "Se você trabalhou todos os dias de tua vida, pode estar sereno".

Fazendo uma análise dos 47 anos da Revolução cubana, disparou, como se fizesse um desafio: "Não há forma de destruir a revolução". Fidel também indicou que dificilmente "alguém poderia impedir o futuro de uma América Latina unida".

OPOSITORES Em Buenos Aires, diversos grupos políticos colocaram cartazes nas principais avenidas para criticar a visita de Fidel e Chávez. Os cartazes, da autoria dos grupos "Comando Manuel Belgrano" e "Damas de Branco", de tendências direitistas, com vínculos com as Forças Armadas, diziam: "Fora ditadores da Argentina! Com o que temos, já nos basta". Outros pediam "Liberdade para os presos políticos".