Título: Terror planejava ataque 'pior que o 11 de Setembro', diz governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2006, Internacional, p. A25

A intenção dos sete suspeitos de terrorismo detidos na quinta-feira em Miami era realizar um atentado "tão grande ou maior que o 11 de Setembro", afirmou ontem o secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales, lembrando o atentado contra as Torres Gêmeas de Nova York, em 2001. O grupo detido tinha como um dos alvos a Torre Sears, o mais alto arranha-céu dos EUA (veja quadro), localizado em Chicago. Eles também planejavam atacar a sede do FBI (polícia federal americana) em Miami e outros edifícios da Flórida.

Cinco dos presos são cidadãos americanos. Um outro é imigrante haitiano residente legalmente nos EUA e o último é um haitiano ilegal. Os sete foram acusados ontem. Eles contataram um homem que, pensavam, seria membro da Al-Qaeda. Na verdade, tratava-se de um policial que se fez passar por membro da rede terrorista.

Não ficou estabelecido nenhum elo entre os acusados e o grupo liderado por Osama bin Laden. Os sete teriam, porém, segundo a acusação formulada no dia da prisão, jurado lealdade à Al-Qaeda.

Os supostos terroristas contataram a pessoa que julgavam ser um membro da Al-Qaeda para obter dinheiro e apoio à missão planejada. O líder dos sete, Narseal Batiste, que é cidadão americano, encontrou-se várias vezes com o policial que se passou por terrorista e lhe pediu botas, uniformes, armas, rádios, veículos e US$ 50 mil para montar o que definiu como "exército islâmico".

Batiste - também conhecido como Brother Naz ou Prince Manna - teria recrutado os demais. Além do equipamento e do dinheiro, ele solicitou em fevereiro ao "membro" da Al-Qaeda treinamento para o grupo, com o objetivo de "matar todos os demônios que possamos".

As autoridades americanas esclareceram que o plano terrorista foi descoberto ainda em uma fase preliminar. Não foram encontrados, por exemplo, explosivos no local em que estavam. O grupo era vigiado pela polícia americana desde dezembro.

Os detidos - com idades entre 22 e 32 anos - viviam num bairro pobre no norte de Miami. Vários deles tinham antecedentes policiais por crimes comuns. As prisões foram feitas por uma força conjunta antiterrorista liderada pelo FBI.

O grupo permanecerá preso até o julgamento. O juiz federal de Miami Patrick White disse que a acusação formal contra os sete será lida no tribunal na quinta-feira. O grupo será acusado de tentar iniciar uma guerra contra o governo americano e promover destruição com explosivos. A pena para cada um pode chegar a 70 anos de prisão.

Moradores da área em que os sete homens foram encontrados disseram que eles se descreviam como muçulmanos e tentavam recrutar jovens para ingressar no grupo. Segundo os vizinhos, os supostos terroristas viviam no local havia aproximadamente um ano.

Tashawn Rose, de 29 anos, disse ter falado com um membro do grupo há um mês. "Eles diziam que tinham dado a vida para Alá", recordou. "Pareciam ter passado por uma lavagem cerebral."

O secretário de Justiça esclareceu que o pequeno número de integrantes do grupo não significa menor risco. "Atualmente, as ameaças terroristas podem vir de pequenas células", disse Gonzales. O procurador ressaltou que estes "terroristas locais" podem ser "tão perigosos como os grupos da Al-Qaeda".

Os presos fariam parte de uma "nova variedade de terroristas", segundo o diretor do FBI, Robert Mueller. Esses extremistas, amparados por tecnologias como a internet, "formam células e grupos inspirados na Al-Qaeda, ainda que não tenham uma vinculação orgânica com essa organização. "É o que vimos em Madri, Londres e em Toronto", explicou Mueller.

Em Madri, houve atentados simultâneos em 11 de março de 2004. Londres sofreu um ataque em sua rede de transportes em 7 de julho de 2005. Em Toronto, a polícia prendeu este mês supostos terroristas acusados de tramar atentados.