Título: Obesidade cresce entre as meninas
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2006, Vida&, p. A32

A adolescência brasileira é a mais recente tradução do excesso de peso no País. Na faixa entre 10 e 19 anos, o problema já afeta 1 em cada 5 meninos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Entre as mulheres, a proporção é um pouco menor, mas, em contrapartida, é entre elas que a obesidade surge com mais força. Em 2002-2003, ela atingia 1 em cada 5 meninas com excesso de peso, ante 1 em cada 10 meninos.

"Adolescentes que chegam aos 17 anos obesos têm cerca de 80% de chances de serem adultos obesos. Apresentam maior risco para doença cardiovascular, certos tipos de câncer, diabete tipo II, problemas reprodutivos e complicações sociais", observa o pediatra Nataniel Viuniski, da Associação Brasileira de Nutrologia.

O excesso de peso é reflexo de uma combinação perversa de sedentarismo e alimentação inadequada. "Os determinantes principais são a inatividade física e hábitos não saudáveis de alimentação, por conta de refrigerantes e alimentos com alto teor de açúcar e gordura. Na medida em que a criança fica maior, o alimento passa a ter um simbolismo, ela passa a ser manipulada pela propaganda. Assim como a criança com menos de 5 anos é vulnerável à desnutrição, a criança com mais de 5 é ao excesso de peso e à obesidade", ressalta o chefe do Departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo, Carlos Augusto Monteiro, consultor do Ministério da Saúde.

Assim, não é à toa que o excesso de peso seja mais freqüente em habitantes das cidades, embora afete a todos, nas diferentes classes sociais. É na área urbana, por exemplo, que é registrada a maior proporção do País, para adolescentes homens: 23,6%, no Sul. Um quadro bem diverso do encontrado no Nordeste rural, com 6,8%.

GORDURA ZERO

Para Monteiro, programas do governo de transferência de renda têm sua importância na eliminação da desnutrição infantil, mas nada fazem para evitar os transtornos associados ao ganho de peso excessivo. "Precisamos pensar na orientação alimentar e em iniciativas que tornem a alimentação saudável mais acessível. A preocupação com a Bolsa Família é importante, mas não é tudo", frisa o especialista. Viuniski concorda e sugere que as políticas públicas devem tratar de questões como a propaganda para o público infantil, o preço dos alimentos e as opções de lazer.

Coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Ana Beatriz Vasconcelos reconhece que o País hoje tem uma "dupla carga", ou seja, a de sustentar as melhorias já alcançadas - com a queda da desnutrição infantil - e a de realizar um trabalho de promoção à saúde, que ajude a frear os indicadores de excesso de peso.

Apesar de afetar adolescentes de todas as classes sociais, o sobrepeso ainda é mais intenso entre as pessoas de melhor situação financeira. Entre os meninos, a proporção é de 28,2% na maior classe de renda (cinco ou mais salários mínimos per capita) ante 8,5% entre as famílias com até 0,5 salário mínimo per capita.