Título: Presidente citará crise na convenção
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2006, Nacional, p. A5

Sem o apoio oficial de uma frente ampla, mas apostando na "força do povo", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirá hoje, na convenção nacional do PT, que decidiu ser candidato à reeleição porque ainda tem muito a fazer pelo Brasil. Num salão decorado com banners gigantes, exibindo em letras garrafais o slogan "Lula de novo. Com a força do povo" - que reproduz o estilo populista do líder venezuelano Hugo Chávez -, Lula vai mencionar a crise política que atingiu seu governo, mas não rebaterá diretamente os ataques de tucanos e pefelistas.

No lugar da artilharia, o presidente adotará tom emocional: vai insinuar que a oposição está nervosa porque só ele tem o apoio da população. A convenção do PT, no Minas Brasília Tênis Clube, homologará a chapa liderada por Lula, que mais uma vez terá José Alencar como vice. Em visita a Chapecó (SC), ontem, o presidente fez questão de dirigir um afago a Alencar, que no dia anterior escancarou a mágoa com sua demora em convidá-lo para repetir a dobradinha de 2002.

PARCEIROS

Até agora, a coligação de Lula se resume ao PT e ao PRB de Alencar, mas é possível que o PC do B ingresse formalmente na aliança na próxima semana. O PSB não oficializou apoio por causa de problemas regionais com o PT, mas uma ala hoje minoritária ainda defende o casamento de papel passado com os petistas. A decisão final do PSB será tomada em convenção na quarta-feira. Dois dias depois, o PT fará nova reunião, mas apenas para confirmar à Justiça Eleitoral quem serão os aliados de Lula nesta campanha.

Mesmo com a coligação à espera de adesões, tanto o presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), como o do PC do B, Renato Rabelo, vão discursar na pajelança petista ao lado do deputado Ricardo Berzoini, que comanda o PT. O custo da convenção, que deve reunir aproximadamente 4 mil pessoas, foi estimado em R$ 620 mil.

DESAFIOS

Para preparar o discurso de Lula, recheado de comparações com o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, vários ministérios enviaram informações para o Palácio do Planalto. A idéia é que o presidente fale sobre a situação em que recebeu o País, o que desejou fazer, o que conseguiu fazer e os desafios que tem pela frente.

"Não será um discurso de polêmica com o adversário do PSDB", resumiu o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, numa referência a Geraldo Alckmin. "Nós temos o que apresentar à sociedade e não precisamos entrar na baixaria. Não vamos sucumbir a essa tentação", completou o coordenador do programa de governo, Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula.

Em vez de atacar, o presidente pretende focar seu discurso em tudo o que fez pelos pobres. "O povo é muito mais sábio. Quanta indignação houve por parte de alguns neste país ! Depois de um ano e meio batendo sem parar, sai uma pesquisa, eu subo. Eles descem", disse ele dias atrás, antecipando o tom de sua nova campanha.