Título: Lula usa Planalto como comitê, acusa Alckmin
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2006, Nacional, p. A10

O candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de transformar o Palácio do Planalto em comitê eleitoral e disse que o PSDB, a sociedade e a Justiça Eleitoral não vão tolerar abusos e o uso indevido da máquina pública na campanha eleitoral. Ele afirmou que a fiscalização será "severa", para evitar que o principal adversário continue a confundir o exercício do mandato com a corrida pela reeleição.

"O Palácio do Planalto não pode ser transformado em comitê eleitoral. Não pode. É um prédio público, uma instituição pública", alfinetou o ex-governador, em visita a Caruaru, a principal cidade do agreste pernambucano. "É preciso separar as coisas. Essa mistura entre partido e governo, entre público e privado, é uma coisa atrasada na política. É preciso fazer a separação."

Na avaliação do candidato tucano, Lula não conseguiu fazer essa distinção. "Não tenha dúvida disso. O que aconteceu no Brasil neste um ano e meio foi exatamente por conta dessa mistura indevida entre partido e governo", destacou Alckmin, referindo-se ao escândalo do mensalão e ao suposto envolvimento do próprio Planalto e de ministros do governo Lula em denúncias de corrupção.

Para ele, Lula, como candidato oficial, será obrigado a cumprir a Lei Eleitoral e evitar o uso abusivo da máquina. "O que a gente viu neste período aí foi campanha pura", ressaltou. "É preciso ter uma separação clara do que é governo e o que é campanha. Campanha não pode ser custeada de forma direta ou indireta pelo governo."

IMPROVISAÇÃO

Na visita à cidade, como parte da estratégia de tirar votos de Lula em seu principal reduto, o Nordeste, Alckmin também voltou a bater forte na gestão petista. Para ele, o governo não tem um projeto definido e é "uma enorme improvisação". Na avaliação do ex-governador, "o Brasil está extremamente devagar", apesar do cenário internacional favorável. "Estamos perdendo oportunidades e em muitas áreas retrocedendo, indo para trás", opinou.

Alckmin frisou que a coligação formada pelo seu partido com o PFL é a única com força eleitoral. Indagado se a ausência de alianças entes os partidos maiores com o PT poderia dificultar a governabilidade, ele respondeu: "Evidente que um próximo mandato será mais complicado. Vai ter um problema de governabilidade preocupante e isso mostra o tanto que o governo precisa melhorar."

O candidato tucano aproveitou a questão tributária para contestar as avaliações positivas da administração Lula. "As obras não andam, a carga tributária é muito alta e não pára de aumentar. O cenário, em vez de ser melhor, é dos mais preocupantes: menos investimentos, mais gastos correntes, mais impostos. Claro que vai ser um cenário mais difícil", previu.

Alckmin ressaltou que a expectativa é de que o PT, nas próximas eleições, tenha uma bancada bastante reduzida em relação ao número atual.

Demonstrando otimismo, apesar do desempenho acanhado nas últimas pesquisas, Alckmin afirmou que acredita no crescimento de sua candidatura e avisou que o debate está apenas começando.

Para o ex-governador, um segundo mandato só se justificaria para Lula se houvesse um grande projeto após os quatro primeiros anos de gestão, algo a ser implementado por um grande governo. "No caso atual, não há projeto definido, mas uma enorme improvisação."