Título: Governo bancará endosso de bilhete
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse ontem que o governo está "lutando" para garantir a viagem de brasileiros com bilhetes da Varig e pode reembolsar as empresas que têm endossado as passagens. Mas ressalvou que a prioridade é dos que estão no exterior com a volta ameaçada, estimados em 30 mil.

A intenção do governo, disse ele, é valorizar a instituição da concessão pública ao garantir a validade dos bilhetes, e confirmou que aviões da Aeronáutica serão empregados nas situações críticas.

"Uma concessionária do serviço público vende bilhetes e a população precisa acreditar que são válidos. Se ocorrer um colapso, de qualquer jeito esses bilhetes devem e precisam ser honrados", disse Pires, acrescentando que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem contado com a compreensão de outras companhias para encaixar passageiros em seus aviões.

Segundo o ministro, o esforço da Anac trouxe de volta ao Brasil, anteontem, 2.903 brasileiros que esperavam vôos da Varig em Nova York, em aviões das concorrentes. Só 60 não conseguiram embarcar.

Pires informou que, antes de embarcar para o Rio, onde participou de uma cerimônia da Marinha, na manhã de ontem, recebeu do comando da Aeronáutica a confirmação de que dois Boeings 707 ( "sucatões") e aviões menores da Embraer que pertencem à Força Aérea Brasileira (FAB) estão prontos para decolar.

Os aparelhos já estão na Base Aérea do Galeão, no Rio, e, segundo o ministro, em boas condições de viagem. Ele disse que o emprego desses aviões pode ser decidido a qualquer momento, a partir das informações reunidas pela Anac com os locais onde os passageiros encontram mais dificuldades para voltar ao Brasil. "A prioridade absoluta é de quem está nos aeroportos ou na véspera de vir embora, precisa vir e não tem nem dinheiro para ficar lá. Essa é a nossa principal preocupação".

"ANGÚSTIA" Pires disse que o programa de emergência montado pelo governo sob a liderança da Anac ganhou a adesão do Ministério das Relações Exteriores, que determinou que funcionários de todas as embaixadas e consulados brasileiros percorram aeroportos para dar assistência aos nacionais. Eles também enviarão ao Brasil informações sobre o número de passageiros prejudicados.

Segundo o ministro, a mobilização será mantida até que todos retornem. "O destino prioritário é a angústia dos nossos brasileiros", disse. "Toda a mobilização possível do Estado se fez. É claro que aqui e ali há dificuldades", admitiu, mudando o tom do discurso da véspera, quando chegou a aconselhar os passageiros da Varig a ficarem em casa aguardando o fim da crise.

Segundo o ministro, as companhias brasileiras aceitaram endossar os bilhetes da Varig e articular parcerias com suas congêneres internacionais mesmo sem a garantia do reembolso. No entanto, ele frisou que a boa vontade não poderá ser usada como argumento para que as empresas reivindiquem a herança natural das linhas. "Isso não pode ser considerado, digamos assim, um toma-lá-dá-cá. Eu mesmo tive muitas conversas com todos (os concessionários). Estamos em face de uma contingência e temos de honrar a concessão de serviço público nacional", disse.

Pires afirmou que caso a Varig não possa honrar a despesas dos endossos, o governo encontrará formas de indenizar as outras companhias, mas sem fazer vinculações à concessão posterior das linhas. "Não vamos impor prejuízo a nenhuma empresa nacional", acrescentou.