Título: Paralisação no Chile continua
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Internacional, p. A14

Depois de mais de seis horas de assembléia, os estudantes secundaristas chilenos anunciaram ontem à noite que manterão a greve nacional, pelo menos até que obtenham a maioria dos assentos na comissão que será encarregada de reformar a educação no país. ¿Nós entregamos uma proposta que tem a ver intrinsecamente com o nível de participação que queremos ter na comissão a ser formada¿, disse uma das líderes do movimento, María Jesús Sanhueza. ¿Queremos que a carta com as propostas em relação a esta demanda seja assinada pela presidente da república. Só em função disso vamos trabalhar.¿ Outra líder, Karina Delfino, insistiu: ¿Só se a presidente firmar o que estamos apresentando é que suspenderemos a greve.¿

As manifestações, ocupações de escolas e paralisações começaram há três semanas e se transformaram no maior protesto já realizado no Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. Depois que o governo de Michelle Bachelet atendeu várias de suas exigências, os estudantes disseram ontem que querem ter o direito de escolher ¿50% mais um¿ dos membros do Conselho Assessor Presidencial sobre Educação, que proporá as reformas a ser feitas numa lei da época de Pinochet. Essa lei passou aos municípios a responsabilidade pela administração das escolas públicas.

Bachelet cumpriu ontem uma de suas promessas e enviou um projeto de reforma da Constituição ao Congresso. O projeto é genérico: visa, segundo Bachelet, a ¿garantir a qualidade da educação¿. A ministra da Secretaria-Geral da Presidência, Paulina Veloso, disse que a reforma daria ao Estado poderes para supervisionar efetivamente todas as escolas, incluindo as particulares.

Entre os benefícios já oferecidos por Bachelet estão uma verba adicional para a educação (de US$ 58 milhões para este ano e US$ 135 milhões para 2007), desconto nos transportes públicos e isenção, para 80% dos jovens mais necessitados, do pagamento de taxa de vestibular. Os estudantes queriam transporte gratuito.

Ontem, 30 estudantes ocuparam por duas horas a sede regional da Organização das Nações Unidas Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em Santiago. Eles saíram após entregar uma carta com demandas. A Unesco manifestou apoio às demandas de reformas.

Na segunda-feira, a greve mobilizou quase 1 milhão de pessoas, segundo organizadores. Cerca de 600 mil alunos do ensino médio e 300 mil universitários aderiram. Em Santiago, houve alguns atos de vandalismo e saques. Segundo a polícia, 35 pessoas ficaram feridas e 389 foram presas.