Título: Primeiro o medo, depois a reação indignada
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A4

No começo, sitiados e com medo; no fim, indignados. Esse foi o comportamento dos deputados com a invasão do prédio da Câmara e com os atos de vandalismo e destruição praticados por integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST). "Quando eles chegaram ao Salão Verde, havia apenas uns dez de nós em plenário. Iriam acabar com a gente se tivessem entrado", disse o deputado Átila Lins (PMDB-AM).

Como parecia haver a intenção de os militantes invadirem o plenário, o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), presidente em exercício da Câmara no momento em que os manifestantes conseguiram entrar no prédio, anunciou que acabara de pedir a presença de mil soldados da Polícia do Exército.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) não concordou. Lembrou os desmandos que ocorrem no Congresso, os parlamentares que fraudaram a compra de ambulâncias, os sanguessugas, os seguidos arquivamentos de pedidos de CPIs por parte da Mesa do Senado e a revolta que isso causa. Disse que os manifestantes eram "radicalões" de extrema direita, com cara de extrema esquerda.

"Acho que não deve ser chamada a Polícia do Exército", disse Miro. "Eu desejo a revolta. A revolta existe dentro de cada um de nós que vê o que se passa no Brasil. Mas a revolta não é sinônimo de violência. Ela tem de se manifestar, sim, contra tudo o que o Brasil está vendo. Com este Congresso sendo manietado, amordaçado por Mesas Diretoras que parecem ter um padrão de elasticidade moral, que se recusam a mandar fazer apurações, que se recusam a atender a requerimentos de CPIs, deságua nisso."

Passada a surpresa da invasão, e com a segurança garantida no plenário, os parlamentares começaram a se manifestar mais calmamente. Raul Jungmann (PPS-PE) afirmou que a violência compromete a democracia. "Não acredito que isso possa ser tolerado, que possa ser aceito." O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou que por trás de tudo havia vândalos. "O que houve, seguramente, não foi um ato político, da esquerda, da direita, não foi ato de partido, foi ato de vandalismo. E para o vandalismo nós temos a lei."

SEM MUDANÇA

O episódio não vai significar novo esquema de segurança na Casa. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), afirmou que prefere correr riscos do que distanciar a Casa dos movimentos sociais. Ressaltou, no entanto, que não vai permitir violência. Aldo disse que entrará com ações penais contra os invasores e também cobrará na Justiça os prejuízos materiais causados. "Não vou sacrificar a vocação democrática da Câmara por causa desse acontecimento", afirmou Aldo. "O episódio não servirá de pretexto para que a Câmara se transforme em uma instituição afastada da sociedade. Esta Casa estará permanentemente aberta para receber todos os movimentos legítimos do povo brasileiro, mas, ao mesmo tempo, não será admitida qualquer forma de violência e de intimidação."

Ronaldo Caiado (PFL-GO), líder dos ruralistas, comparou a invasão da Câmara aos ataques do PCC em São Paulo. O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), preocupado com a possibilidade de seu partido ser desgastado pelo ato do MLST, disse que os manifestantes deveriam ser punidos. "O povo brasileiro repudia, na sua totalidade, esse ato de vandalismo extremado."