Título: Sem-terra invadem Câmara, espalham destruição e ferem 24
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A4

Sob o comando de um dirigente petista, 545 militantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), uma dissidência do MST, transformaram ontem o Congresso numa praça de guerra, em episódio de selvageria inédito na história da instituição. Depois de invadir à força um prédio anexo da Câmara, eles passaram a destruir tudo à volta e a agredir seguranças. No fim, 26 pessoas saíram feridas - 24 seguranças e 2 manifestantes. Um diretor da Casa foi internado na UTI de um hospital com traumatismo craniano.

Foram quase duas horas de terror: o Congresso foi sitiado, os servidores ficaram acuados e os parlamentares se viram confinados no plenário e nos gabinetes. Ao fim do quebra-quebra, os 545 ativistas foram detidos pela Polícia Militar. Do total, 503 adultos (entre eles 6 líderes) e 42 menores de 18 anos.

Os manifestantes chegaram determinados para a invasão: saíram dos ônibus e correram em direção a duas portarias. No caminho, viraram um Fiat Uno Mille vermelho que seria sorteado na festa junina dos servidores. Para romper o portão de vidro da entrada do anexo 2, usaram o carro como aríete.

Arrebentada a porta, atacaram o Uno com pedaços de pau, barras de ferro e paralelepípedos apanhados na rua. Depois, quebraram oito computadores usados para cadastrar visitantes, danificaram o detector de metais e atacaram os terminais de auto-atendimento utilizados por grupos de turistas. No fim, havia no saguão em ruínas paralelepípedos, pontas de vergalhão, camisetas, alpercatas. Um busto de bronze do governador Mário Covas foi jogado ao chão e rolou até a escada que vai ao Auditório Nereu Ramos.

O vandalismo começou às 14h50. Às 16h12, depois de serem ameaçados de prisão pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), os manifestantes começaram a sair. Às 17 horas, foi detido pela segurança da Câmara o comandante do ataque, Bruno Maranhão, da Executiva Nacional do PT e principal dirigente do MLST.

CONFRONTO Surpreendidos pelos sem-terra, a segurança da Casa e policiais militares que fazem a vigilância em volta do Congresso não conseguiram controlá-los. No confronto, sem-terra e seguranças ficaram feridos, com cortes provocados por estilhaços. Atingido na cabeça por uma pedra, o diretor de Logística e Segurança da Câmara, Normando Fernandes, entrou em coma.

No momento em que a Câmara foi invadida, Aldo não estava. Assim que chegou, teve um diálogo ríspido com Maranhão. Avisou que mandaria prendê-lo e não aceitou nenhuma negociação com os manifestantes. ¿Eu te conheço há 30 anos. Encontrei com você na semana passada e te disse que meu gabinete sempre esteve aberto para o movimento¿, disse Aldo, transtornado com a invasão.

Em entrevista depois da retirada dos manifestantes, na frente do Congresso, Maranhão disse que não conseguiu marcar encontro com o presidente da Câmara. A intenção do grupo, segundo o líder, era entregar uma carta a Aldo e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A própria carta, no entanto, fala em ¿visita de surpresa¿ ao Congresso.

Durante a ocupação do Salão Verde, os manifestantes tocavam um pandeiro e um atabaque. O dono do pandeiro, Cosme José Santos, se preparava para dar entrevista quando foi avisado por uma militante: ¿Não é para ninguém dar entrevista!¿ Os mais revoltados, alguns alcoolizados, tentaram impedir o acesso da imprensa aos líderes do movimento e formaram um cordão de isolamento. ¿Imprensa não!¿, gritavam.