Título: Em 9 anos, movimento passou a atuar em oito Estados
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A6

O Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MSLT) foi criado em 1997, em um congresso que reuniu 600 militantes em Brasília, a maioria deles dissidente do Movimento dos Sem-Terra (MST). No início, o MSLT atuava só no Nordeste, especialmente em Pernambuco. Mas hoje, segundo informações de sua coordenação nacional, tem força em mais oito Estados - Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Minas, Tocantins, Goiás, São Paulo e Paraná.

De acordo com a mesma fonte, o movimento mobiliza 45 mil famílias. Cerca de 35 mil já estariam assentadas. As outras aguardam em acampamentos a hora de mudar para seus lotes.

Apesar de adotar um discurso mais radical, a prática do MLST é semelhante à do MST. Seus militantes invadem propriedades rurais, ocupam edifícios públicos, interditam rodovias e liberam pedágios. Em vários momentos as duas organizações se unem para ações conjuntas. "São apenas ações pontuais", ressalvou ontem a assessoria de imprensa do MST, procurando firmar linha divisória entre os dois movimentos.

Ainda segundo a assessoria, a direção nacional do MST não comentaria o ocorrido no Congresso ontem porque são movimentos independentes. Mas o líder do movimento na região do Pontal do Paranapanema, José Rainha Júnior, disse ser contrário a atos de violência.

O MLST, por ser menos visível, recorre a ações espetaculares e provocativas, como a invasão repetida de uma mesma propriedade, como fez em 2000 na Fazenda Parque Douradinho, no Triângulo Mineiro - uma das áreas do País onde o movimento é mais atuante. Numa das ações executadas naquela propriedade, seus integrantes incendiaram um carro da polícia. No ano passado, ocuparam o edifício do Ministério da Fazenda para protestar contra a política econômica do governo.

A maior fase de crescimento do MLST ocorreu após a chegada de Lula ao governo. Seus líderes aproveitaram para arregimentar mais gente na periferia das cidades, usando o argumento de que Lula intensificaria o processo de reforma agrária.

Apesar das críticas à política econômica do governo, o MLST, assim como MST, dialoga com as autoridades ligadas à reforma agrária.

Em 2002, ao investigar a organização, para uma tese de mestrado apresentada na USP, o pesquisador Marco Antonio Metidieri observou que o MLST tem uma estrutura mais verticalizada que a do MST. Ainda segundo o pesquisador, o discurso de seus líderes é distante da realidade das pessoas que pretendem representar. Disse que se trata de "uma matriz discursiva provinda dos partidos de esquerda das décadas de 60 e 70", que "em nada se aproxima dos problemas imediatos dos trabalhadores rurais sem-terra".