Título: Entrada na Câmara foi combinada pela manhã
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A7

Às 9 horas de ontem, no Parque da Cidade, distante dez quilômetros do Congresso Nacional, o comando do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) decidiu que entraria na Câmara dos Deputados. Tomada a decisão, o grupo avisou aos demais integrantes do movimento que se deslocavam naquela hora para a capital.

A cúpula do movimento dissidente do MST marcou a viagem a Brasília no dia 1º de maio, depois de consultas e assembléias nos Estados. Os sem-terra levados para Brasília foram recrutados em assentamentos do movimento em Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo e Tocantins. Cada direção estadual se responsabilizou em levantar recursos para alugar ônibus e garantir a alimentação dos sem-terra.

No Triângulo Mineiro, o movimento arrecadou R$ 7 mil com os sindicatos locais e entidades ligadas à Igreja nas cidades de Prata, Uberlândia e Uberaba. O dinheiro foi usado para alimentação e para pagar parte das despesas com o aluguel dos ônibus. O movimento ficou devendo outros R$ 7 mil para empresas que fizeram o transporte dos sem-terra. Valdemar Nogueira, de 44 anos, a mulher Maria Aparecida Nogueira, de 40, e dois filhos menores contaram ter saído de Uberlândia à meia-noite e chegado a Brasília no início da manhã. Só comeram bolachas durante o trajeto.

Heleno Marques, de 40 anos, disse que deixou Flecheiras, zona da mata de Alagoas, às 18 horas de domingo e chegou pouco antes da assembléia no Parque da Cidade. Ele e outros 48 sem-terra que saíram de lá receberam passagem e R$ 40,00 cada um para despesa com alimentação. Durante a viagem de 38 horas, ele gastou R$ 14,00. "Tentei economizar para voltar com dinheiro para casa." Terezinha Vital, também de São Luiz do Quitunde (AL), disse que os sem-terra fizeram dois almoços na estrada (pastel com suco), pagando R$ 2,00 em média por cada refeição. Para aliviar a fome, o grupo pedia água quente nos postos, para fazer café.

Foi a quinta viagem de Terezinha a Brasília desde 2000. Marques já esteve na cidade outras duas vezes. Eles disseram que a maioria do grupo está acostumada a sair dos assentamentos e viajar para Brasília. Os coordenadores do movimento negaram que a proposta aprovada no parque incluía a entrada a qualquer custo na Câmara. "Ninguém era louco para enfiar mulher e criança nessa baixaria", disse Antônio Arruti. Para Ismael Oliveira, os líderes perderam o controle do grupo na chegada à Câmara, quando dois grupos, de antigos mata-mosquitos e de estudantes, tentavam entrar no prédio.