Título: Segundo colegas, diretor ferido não precisaria estar no conflito
Autor: Vera Rosa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A8

Em meio ao caos que se transformou a Câmara ontem, uma notícia logo se espalhou: um dos policiais legislativos havia sofrido traumatismo craniano e corria risco de morte.

A vítima é o diretor da coordenação de apoio logístico da Casa, o policial Normando Fernandes. Atingido por uma pedra no lado direito da cabeça, Normando desmaiou, foi atendido pelo serviço médico da Câmara e, depois de constatado o traumatismo craniano, foi transferido para o Hospital Santa Lúcia. "Os boatos foram muitos. Ouvi duas vezes a notícia de que ele havia morrido", contou o irmão do diretor, Nilton Fernandes.

No início da noite a descrição era outra. Ele, de fato, havia sofrido traumatismo craniano, mas os médicos diziam que seu quadro era estável. Permaneceria em observação até a realização de outra tomografia, para avaliar a extensão de uma hemorragia. "Foi um susto imenso", contou o pai dele, o militar reformado José Fernandes. "Meus parentes ligaram do Nordeste, achando que ele havia morrido." Na noite de ontem, era apontado como suspeito de tê-lo ferido o militante Arildo Joel da Silva, de 21 anos, natural de Lindo Oeste, no Paraná.

TRADIÇÃO

De temperamento reservado e definido pelos amigos que o acompanharam ao hospital como um homem bastante sério, Normando é o quarto filho de José e responsável pela manutenção da tradição na família: a área de segurança. Seu irmão mais velho, Nilton, é major do Corpo de Bombeiros.

Funcionário da Câmara desde 1996, Normando, de 36 anos, em tese não precisaria estar no meio do conflito. "Pela função que exerce, teoricamente, ele poderia ter ficado longe do conflito, mas é dele tentar ajudar", afirma o irmão. Servidor concursado, há um ano e meio Normando assumiu o cargo. "Ele é assim, sempre disposto a ajudar. Claro que não ia se conformar em ficar no gabinete", contou um agente, segundo quem a profissão torna-se cada dia mais tensa. "Conflitos estão ficando mais violentos", afirmou, sem se identificar. "Somos treinados para negociar, dialogar. Mas hoje (ontem) não deu certo. Eles já chegaram para quebrar."

Erica, mulher de Normando, grávida do segundo filho do casal, recebeu a notícia do ferimento de seu marido pela sua mãe. Chegou ao hospital chorando. "Ele queria contar como tinha sido o ferimento. Pedi para ele descansar." Para Nilton, o acidente não pode ser taxado de inusitado. "Há algum tempo as manifestações estão com essas características."