Título: 'Perderam o juízo?', reage Lula
Autor: Vera Rosa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou muito irritado com os atos de vandalismo praticados pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) durante a invasão do Congresso. "Isso é inaceitável", disse ele, ao ser informado por auxiliares sobre a depredação da Câmara. "Perderam o juízo?", completou, segundo relato de um ministro.

Lula estava no Ceará, a caminho de Brasília, quando soube que o Congresso se transformara em praça de guerra. Durante todo o dia, o presidente ficou fora da cidade: em Missão Velha (CE), visitou as obras da ferrovia Transnordestina e, em Nova Jaguaribara (CE), inaugurou o sistema de piscicultura do Açude do Castanhão.

Aos interlocutores com quem conversou por telefone, Lula pediu que fosse redigida nota de repúdio à violência no Congresso. No início da noite, o Palácio do Planalto divulgou a nota, assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer, classificando a invasão da Câmara como um "grave ato de vandalismo".

"A Presidência da República manifesta solidariedade e apoio ao Congresso Nacional diante da invasão de suas dependências em um grave ato de vandalismo cometido contra o Parlamento no dia de hoje", afirma o texto. "A agressão ao Congresso Nacional, espaço público para as manifestações legítimas e pacíficas da sociedade, fere os princípios da democracia e deve ser tratada com o rigor da lei."

No último parágrafo, a nota destaca a diferença entre as ações dos movimentos sociais e a selvageria de ontem no Congresso. "A Presidência da República está segura de que os movimentos sociais brasileiros não se identificam com atitudes de violência cometidas contra instituições cuja liberdade e soberania foram tão difíceis conquistar".

No momento da invasão, também estavam fora do Planalto os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), com viagem marcada para a Espanha, e Dilma Rousseff (Casa Civil), que visitava o Rio. Tarso foi informado da confusão justamente ao desembarcar no aeroporto do Rio e disse que os responsáveis serão punidos.

Cerca de três horas depois da invasão da Câmara, o Ministério da Justiça também divulgou nota de repúdio curta e direta, em que qualifica o episódio como "apedrejamento da democracia" e "uso ilegítimo da força". No texto, o ministério promete empenho para investigar e processar os "responsáveis pelo ato de vandalismo". Eis a íntegra da nota: "Aqueles que apedrejaram a democracia no lamentável ato perpetrado contra a Câmara dos Deputados não colaboraram em nada para o avanço da justa causa da reforma agrária. O uso ilegítimo da força será contido pelas penas da lei. O Ministério da Justiça se solidariza com o Poder Legislativo e coloca à sua disposição a Polícia Federal para participar da persecução criminal dos responsáveis pelo ato de vandalismo."

Para Gilmar Mendes, presidente interino do Supremo Tribunal Federal (STF), "mesmo em momentos de tensão política é preciso preservar o respeito às instituições e encaminhar as reivindicações dentro das regras democráticas".