Título: Lula: 'Presidente tem de engolir sapo e calango'
Autor: Tânia Monteiro e Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Nacional, p. A9

Depois de um inflamado discurso do ex-ministro Ciro Gomes contra "o modelo ideológico que dominou o País por 8 anos", o presidente Lula criticou o governo anterior, mas disse que não pode se exaltar como Ciro. "Quem está na Presidência não tem o direito de ficar nervoso. Tem que engolir sapo, rã, cururu, calango, o que tiver que engolir, mas não pode perder as estribeiras", afirmou em Missão Velha (CE), onde anunciou o início das obras da Ferrovia Transnordestina.

À platéia de 5 mil pessoas, Lula contou que quando é atacado conta até 10 e se pergunta por que estão atacando. Mas não deixou de alfinetar adversários: "Parece que há um grupo que trabalha 24 por dia para evitar que as coisas aconteçam." E disse que o País mudou em seu governo. "Este país não é governado por um brasileiro comum, está sendo governado por um brasileiro que é retirante nordestino, que sabe o que é a fome. Há uma tradição política no Brasil, que é perniciosa: as pessoas não gostam de quem gosta de pobre."

Mais tarde, em Nova Jaguaribara (CE), na outorga das águas do açude de Castanhão para criação de peixes para comercialização, Lula voltou ao tema. "Cuidar dos mais fracos e dos necessitados é permitir que essas pessoas tenham acesso à cidadania. É isso que queremos fazer e fazemos com carinho. E é por isso que nós despertamos, em alguns, tanto ódio contra nós, tanta mágoa, tanto ressentimento."