Título: 'Volks e GM não têm produtos atraentes para o consumidor'
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A crise da Volkswagen e, em menor intensidade, da General Motors é fruto de produtos defasados e dependência das exportações de carros com alto índice de nacionalização, analisa o consultor Richard Du Bois, especialista em indústria automobilística, nesta entrevista ao Estado. No setor como um todo, a conjuntura é favorável no mercado interno e de desaceleração das exportações por conta do dólar. A Volks planeja demitir 5.773 funcionários até 2008, segundo lideranças de trabalhadores do grupo. A GM confirmou o corte de 960 postos em São José dos Campos (SP) até julho, mas anunciou contratações, ao longo do ano, de 970 pessoas em Gravataí (RS) e 300 engenheiros para a unidade de São Caetano do Sul (SP).

O que justifica esse recorde das montadoras quando há uma crise declarada em duas das maiores fabricantes, a Volkswagen e a GM? Elas têm problemas similares, como a falta de produtos mais atraentes aos consumidores. A Volks, por exemplo, não tem um carro médio nacional, de maior valor agregado, que possa competir, por exemplo, com o Civic, da Honda, e o Corolla, da Toyota. Modelos dessa categoria rendem cerca de R$ 10 mil a R$ 15 mil na venda, enquanto um popular, quando muito, rende de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. A Volks tem também problemas de gestão, é uma empresa inchada, com custo maior de produção no ABC, por exemplo, em relação à Fiat, em Minas Gerais. Já a GM certamente vai investir mais na fábrica de Gravataí, que é muito eficiente.

Volks e GM reclamam de perderem contratos de exportação. Problema cambial não é igual para todas as empresas? Montadoras com menor índice de nacionalização, como as francesas e as japonesas, estão ganhando espaço no mercado porque se aproveitam do câmbio para importar peças. As mais antigas, como Volkswagen e GM, que têm maior conteúdo nacional nos produtos, sofrem mais. Além disso, têm maior dependência das exportações e estão perdendo dinheiro para manter contratos antigos.

Mas como o setor continua batendo recorde nas exportações? Apesar do volume recorde de exportações, o índice de nacionalização dos carros está caindo. Em número agregado, o resultado é bom, mas em quantidade de empregos, em massa salarial não cresce na mesma proporção. Além disso, as empresas perdem dinheiro.