Título: OS PRINCIPAIS MOMENTOS
Autor: João Domingos, Mariana Caetano e Luciana N. Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Nacional, p. A4

Lula - Indagado pelo senador Leonel Pavan (PSDB-SC) sobre o grau de proximidade com Lula, Silvinho disse que não tinha "relação de intimidade com o presidente", mas "gostaria de tê-la". Continuou a ser indagado sobre o tema, até que respondeu: "Nunca mais encontrei com Lula. Continuo gostando dele e votarei no Lula."

Finanças - Disse que discordava do excesso de centralização das finanças do partido em torno do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Assim justificou ter dito que Delúbio perdeu o controle da arrecadação, que passou a ser feita pelo publicitário Marcos Valério. "É verdade que Delúbio tinha esse poder (sobre as finanças do PT). A avaliação minha de que perdeu o controle talvez seja pesada, mas acho que ele acabou se confundindo muito. Era impossível uma pessoa só cuidar de tudo isso (finanças da campanha nacional e das campanhas estaduais, em 2002)."

Delírio - Durante o depoimento, Silvinho não aceitou responder a perguntas sobre seu estado de saúde. Disse apenas que estava emocionalmente muito abalado e não tinha condições de garantir que falou a verdade durante toda a entrevista a O Globo. "Infelizmente, na minha vida já tive momentos de delírio."

Entrevista - Criou grande confusão quando ora dizia que a entrevista era verdadeira, ora afirmava que não deu entrevista, mas apenas "conversou" com a repórter. "No conteúdo principal, não acho que tenha tido distorção. Se houve distorção, foi da minha cabeça. Ela (a repórter de O Globo Soraya Aggege) não inventou nada, não mentiu. Não quero incriminar pessoas com base na entrevista. Pode haver coisas verdadeiras e coisas da minha ficção. Não posso dizer o que é fantasia, o que é fato da minha cabeça. Pode haver fatos criados por mim, pode haver histórias da minha cabeça."

Carro - Reconheceu que errou ao receber o Land Rover da GDK. "Se eu errei, devo pagar. Todos que erraram devem pagar. Seja qual foi o erro: pequeno, grande ou máximo." Indagado insistentemente sobre empresas que têm contratos com a Petrobrás, não respondeu às perguntas.

Mágoa - Foi um poço de rancor contra o PT. Deixou claro que se sentiu abandonado depois de mais de duas décadas de dedicação ao partido. "Tenho ressentimento contra o fato de eu ter sido cortado da fotografia da história."

Ele não perdoa os ex-companheiros por não ter sido sequer citado no Encontro Nacional do PT, há duas semanas. Na ocasião, o presidente Lula fez referências carinhosas a outros petistas envolvidos no escândalo do mensalão. "No outro fim de semana teve o Encontro Nacional do PT. As pessoas que não me ligavam mais passaram a ligar. Diziam que foi o melhor encontro dos 22 anos do partido. Isso foi me machucando, porque eu era um dos poucos ausentes do encontro." À ex-companheira de partido Heloísa Helena (PSOL-AL), revelou: "Eu senti que era uma pessoa morta no Encontro Nacional."

Líderes - Vários parlamentares insistiram na tentativa de que comprometesse o presidente. Ele disse, porém, que Lula era um "grande líder", como outros. E minimizou seu próprio papel no partido.

"Os grandes líderes do PT eram Lula, Genoino, José Dirceu, Mercadante. Genoino entrou depois. Eu não sentava nessa mesa."

Desequilíbrio - Sem confirmar que tem medo de ser morto, Silvinho disse ao senador Arthur Virgílio: "O que temo é a mim mesmo."

Direção - "O que havia de conhecimento na direção do PT era que Delúbio buscava dinheiro na rede bancária. Ninguém perguntava qual era o banco. Diziam: 'Tem uma dívida, é preciso ir atrás de dinheiro.' A própria direção do partido autorizava Delúbio."

Valério - Disse que quando se referiu a "cem Marcos Valérios" falava "genericamente" sobre a situação do País e não sobre o esquema ilegal de arrecadação do PT. "Disse que Marcos Valério está virando um sinônimo, como mensalão virou sinônimo de corrupção."