Título: 'O senhor é doido?', questiona senador do PFL
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Nacional, p. A5

Durante a inquirição do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho, o parlamentares não o pouparam de perguntas constrangedoras e agressivas. Mas no fim, apesar de ter-se declarado abalado emocionalmente, o ex-petista pareceu ter contornado os piores momentos de sua inquirição. "O senhor é doido?", questionou, por exemplo, o senador Demóstenes Torres (PFL), a certa altura. "Não vou responder a essa pergunta", devolveu Silvinho.

Esse diálogo ilustra bem o mal-estar de depoente e parlamentares no início da sessão. Silvinho também conteve a irritação quando foi indagado se sofria de mal de Alzheimer ou outro distúrbio.

Em contrapartida, o tempo todo alegou que não se lembrava de fatos relevantes mencionados em sua entrevista ao jornal O Globo - como o de que estaria sendo ameaçado de morte.

Silvinho chegou à CPI acompanhado de dois advogados, Iberê Bandeira de Mello e seu filho. Era uma novidade. O ex-petista explicou que Arnaldo Malheiros, seu advogado anterior, deixou o caso no início da semana.

Malheiros era pago pelo PT desde o tempo em que Silvinho ainda era secretário-geral do partido e veio à tona o esquema do mensalão. Depois da entrevista o advogado considerou que haveria conflito de interesses, na versão do ex-petista.

Uma medida da tensão que aguardava o depoente foi o anúncio feito pelo presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB), de que havia pedido aos médicos do Senado para que ficassem de prontidão para eventual análise do quadro clínico de Silvinho. Na véspera, ele alegara que não poderia depor por estar em depressão. E havia rumores de que apresentaria atestado médico e diria não ter condições de depor.

O ex-petista pediu para interromper o depoimento três vezes. Na primeira, quase desmaiou, segundo o relato do advogado Iberê Filho. Retirou-se com seus representantes e tomou um calmante. A partir daí, retornou mais animado. Bebeu muita água, com gotas de limão, que pingava de tempos em tempos no copo.

BERZOINI

Silvinho encerrou sua fala desafiando o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Ofereceu-se para prestar esclarecimentos "a qualquer instância do partido, em qualquer lugar do País".

Classificado por Berzoini e outros petistas como traidor", "mentiroso" e "corrupto", Silvinho ganhou ontem a solidariedade dos senadores do partido. Nos últimos dias, ele tem sido monitorado por dirigentes e ex-dirigentes do PT, como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino.

A irritação de Berzoini é decorrência de declarações de Silvinho na entrevista. O ex-dirigente afirmou que tentou relatar a Berzoini as irregularidades que constatou na legenda, mas não teria sido ouvido. "Se a direção do PT me chamar para ser ouvido, eu vou. Por que não me chamam?", disse Silvinho à jornalista que o entrevistou.

Encerrado o depoimento, o ex-petista saiu correndo, sem dar entrevistas. Rumou supostamente para o apartamento de um casal amigo - "que não tem cargo no governo" -, em vez de ocupar um quarto reservado para ele pela CPI no Hotel Nacional. O ex-secretário-geral disse que está sendo sustentado pela própria família e que tenta obter indenização do PT.