Título: Estudantes chamam Dirceu de ladrão
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Nacional, p. A7

O ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu foi bastante hostilizado ontem e chamado em coro de "ladrão" por estudantes na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em Belo Horizonte. Dirceu foi convidado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) para ministrar palestra sobre a mídia e a crise política. O ex-ministro passou por diversos constrangimentos e chegou a ser atingido no rosto por um nariz de palhaço.

Durante sua fala, na qual fez duras críticas à imprensa e defendeu o governo, Dirceu foi interrompido diversas vezes por vaias e gritos hostis dos alunos. O primeiro coro de "ladrão", antecedido por vaias, veio quando Dirceu disse que vai "lutar" pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Num auditório com cerca de 700 pessoas, cuja capacidade era para 450, estudantes usavam narizes de palhaço e exibiam folhas de caderno chamando o ex-ministro de "corrupto", além de outras mensagens relacionadas ao escândalo do mensalão. Uma delas ironizava: "Ele foi cassado à toa! Coitado."

Enquanto o ex-ministro destilava críticas à "grande mídia", que, segundo ele, sempre se opôs ao PT e a Lula, os estudantes cobravam insistentemente que ele respondesse às acusações de corrupção. "Então a culpa é da mídia?", perguntou aos berros uma estudante, dando início a gritos de "pizza".

Dirceu afirmou que é inocente e alegou que não há provas de sua participação em nenhuma irregularidade. "Até agora, não há prova contra o presidente, contra ministros ou contra o governo", disse ele, alegando que está em curso "uma campanha de desestabilização" e uma tentativa de derrubar o governo.

Uma minoria manifestou apoio e aplaudiu Dirceu quando ele cobrou da mídia investigação de supostas práticas de caixa 2 nas campanhas presidenciais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e de José Serra, em 2002. Recebeu apoio também quando citou as ações da Polícia Federal e disse que o PSDB não investigou as acusações de caixa 2 na campanha de reeleição ao governo de Minas do atual senador Eduardo Azeredo, em 1998.

Ao final, as hostilidades se transformaram em ofensas. Os estudantes gritaram palavrões. O ex-ministro, que na maior parte do tempo se manteve sereno, demonstrou irritação. Quando dava uma entrevista, foi atingido por um nariz de palhaço.

Um estudante se aproximou e perguntou se Dirceu seria capaz de olhar nos seus olhos e dizer que não fazia parte de "toda essa roubalheira".

"Olho nos teus olhos e digo que não, como olho nos olhos da sociedade brasileira", reagiu. "Isso que está sendo feito comigo será feito com qualquer petista, porque grande parte aqui inclusive é tucana."

Um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decretar a suspensão da investigação criminal sobre o seu suposto envolvimento no esquema de corrupção em Santo André, Dirceu aproveitou para elogiar a corte. "Faz seis anos que se investigam denúncias de corrupção e meu nome nunca foi citado."