Título: Bolívia pode não pagar Petrobrás
Autor: Teresa Navarro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Horas antes de sentar-se à mesa com os negociadores brasileiros em La Paz, o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, fez duras críticas à Petrobrás em entrevista, afirmando que pode não indenizar a empresa, que perdeu seus ativos com a nacionalização das reservas de petróleo e gás. Perguntado se temia a saída da Petrobrás de seu país, afirmou: "A Petrobrás é que deve temer, não nós".

Foi a primeira vez que o ministro falou claramente que as petroleiras podem não ser indenizadas, embora a afirmação já tenha sido feita por pessoas de menor escalão no governo. "Não sabemos ainda se vamos ou não indenizar as petroleiras", disse, incluindo a Petrobrás. Ele disse que primeiro o governo vai ter de saber se, no processo de privatização, as empresas pagaram um preço justo pelas refinarias. Isso porque, segundo ele, não se levou em conta a quantidade de hidrocarbonetos que existia nas unidades.

Soliz também garantiu que o aumento do preço do gás não ocorrerá por decisão unilateral. "Se hoje cobramos US$ 3,80 não significa que vamos subir o preço amanhã para US$ 5 ou US$ 7."

A presença das forças armadas nas refinarias, tão criticada pelo governo brasileiro, foi justificada por Soliz como uma forma de garantir abastecimento e evitar sabotagens. Segundo ele, o Brasil sabe que não haverá racionamento do gás porque, desde o dia que o decreto foi anunciado, em 1º de maio, ele telefonou para o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, dando essa garantia.

CHÁVEZ

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, visitará a Bolívia no dia 18 para apresentar vários projetos de investimentos no país. Entre as propostas está a construção de uma unidade petroquímica em Viellamontes e uma fábrica de de asfalto em Cochabamba. Questionado sobre a influência de Chávez, Soliz Rada disse que mesmo na Bolívia se fala em imperialismo venezuelano e rebateu: "Se isso fosse verdade, eles poderiam muito bem mudar o curso do gasoduto para vender gás para os Estados Unidos, que é um mercado muito maior."