Título: Calçadistas protestam contra política cambial
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Líderes políticos, empresários e trabalhadores do setor calçadista do Rio Grande do Sul saíram decepcionados ontem de uma reunião com representantes do governo para discutir as dificuldades que as empresas gaúchas enfrentam por causa da valorização do real ante o dólar. Segundo o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, não se comprometeu com nenhuma das reivindicações do movimento, muito menos com qualquer possibilidade de mudança na política cambial. "Ele chegou a dizer que o câmbio deve ser adequado, mesmo que isso comprometa a sobrevivência de algum setor da economia brasileira", disse o parlamentar.

Para pressionar o governo, os líderes do movimento promoveram, antes do encontro, manifestações na Esplanada dos Ministérios e no Congresso.

Segundo o prefeito de Campo Bom (RS), Giovani Feltes, cerca de 2 mil trabalhadores desempregados do setor protestaram em Brasília contra a política cambial, que está sufocando as empresas e deixando milhares de desempregados. Pelas contas do movimento, a perda de competitividade no mercado externo provocada pela valorização do real já causou a demissão de 20 mil trabalhadores nos últimos 12 meses. De acordo com o prefeito, muitas empresas não agüentam a situação por mais seis meses.

Feltes contou que Bernard Appy pediu, na reunião, mais paciência com relação às questões estruturais. "Ele acenou com a possibilidade de o governo anunciar algumas medidas, mas não disse quais e nem em quanto tempo", contou o prefeito, ao sair da reunião realizada no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Tanto Júlio Redecker quanto Feltes reclamaram do tratamento do governo aos trabalhadores que participaram da manifestação em Brasília.

Enquanto a comissão do setor calçadista só conseguiu um encontro com o segundo escalão do governo, a algumas dezenas de metros dali, no Ministério da Fazenda, a direção da Associação dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) era recebida pelos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Luiz Marinho, do Trabalho. Do encontro com os calçadistas, além de Bernard Appy, que precisou sair mais cedo da reunião, participaram o secretário-executivo do MDIC, Ivan Ramalho e um representante do Ministério do Trabalho. "É importante tratar bem a Volkswagen", ironizou Redecker.

Para o deputado do PSDB, o governo dá importância menor aos desempregados gaúchos. O motivo, segundo ele, deve ser porque a base do governo Lula é a região do ABC e não o Vale do Rio dos Sinos. "A CUT não participou do movimento nem nenhum deputado do PT", criticou o deputado.

O prefeito de Campo Bom contou que o movimento conseguiu agendar uma reunião com Mantega e outra com Marinho, mas depois o governo optou por concentrar o encontro no Ministério do Desenvolvimento.

Antes da reunião da tarde os desempregados do setor calçadista participaram de uma audiência pública sobre exportação no Congresso Nacional. O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), esteve na audiência. Em clima de palanque, ele arrancou aplausos da platéia ao afirmar que a única medida que resolverá o problema é a mudança na política cambial.