Título: Iedi mostra impacto do câmbio na exportação
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

A competitividade dos produtos brasileiros nos mercados americano e europeu acumula queda de 40% entre 2002 e março deste ano, atingindo níveis inferiores aos de antes da desvalorização do real, em 1999. Essa é a principal conclusão do estudo "O colapso da competitividade exportadora", divulgado ontem pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) em conjunto com a Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex).

O estudo baseou-se na taxa de câmbio real e nos preços médios dos produtos de 18 setores exportadores brasileiros, comparados com os de seus principais concorrentes no mercado americano e no europeu.

Considerando o ano de 2002 como base 100, o estudo indica que o índice de competitividade do produto brasileiro nos EUA chegou a 61 em março passado (ver tabela acima). Em 1998, estava em 70. No mercado europeu, o índice recuou para 60 em março, ante 62,5 em 1998.

Entre os setores que mais perderam competitividade no período analisado, estão siderurgia, máquinas e tratores e autopeças, cujos índices despencaram para 50 em ambos os mercados. Com queda de 30%, artigos de vestuário e calçados foram os setores brasileiros que ficaram menos competitivos, porque reduziram preços de exportação.

Para o Iedi, os resultados do trabalho reforçam a necessidade de adoção de medidas capazes de reverter a valorização do real ante o dólar, que reduz a margem de lucro dos exportadores e se reflete no aumento de preços dos produtos brasileiros.

Reunidos na sede da entidade para debater os resultados do estudo, grandes exportadores defenderam a aceleração acentuada da queda da taxa básica de juros (Selic), que está em 15,75% ao ano. Segundo Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi, um corte profundo nos juros estimularia a desvalorização da moeda e o crescimento da economia brasileira. A avaliação dos empresários é de que a cotação do dólar deveria ficar entre R$ 2,40 e R$ 2,60.

"Se o País continuar crescendo menos que o resto do mundo, não haverá solução para o câmbio", diz Gomes da Silva, que é filho do vice-presidente da República, José Alencar. "Para crescer mais, temos de colocar os juros reais num nível de país civilizado, de apenas um dígito, e não como está hoje."

Além disso, a redução dos juros serviria ainda para diminuir os investimentos especulativos que hoje são atraídos para o País pela diferença entre os juros pagos aqui e em outros países do mundo, pressionando para cima a taxa de câmbio.

Para José Antonio Fernandes Martins, vice-presidente corporativo da Marcopolo, maior exportadora de ônibus do mundo, o Brasil poderia cobrar Imposto sobre Operação Financeira (IOF) sobre o capital que fica menos de um ano no País, a exemplo do que fez o Chile. "O grosso do dinheiro que entra hoje no Brasil é especulativo."