Título: Brasil perde competitividade
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Economia & Negócios, p. B11

O governo brasileiro é um dos principais fatores para a falta de competitividade do País. Com baixo crescimento, uma das mais altas taxas de juros do mundo, burocracia, escândalos de corrupção e ineficiência na gestão governamental, o Brasil cai mais uma vez no ranking das economias mais competitivas do mundo em 2006. Segundo a classificação a ser publicada hoje pelo Instituto Internacional de Desenvolvimento Empresarial (IMD), um dos mais reconhecidos da Europa e com sede na Suíça, o Brasil ocupa agora a 52ª posição - no ano passado, o País estava em 51º e, em 2002, estava entre as 37 economias com maior potencial.

O Brasil também está entre os piores na classificação que mostra os governos que mais atrapalham na competitividade de um país. Segundo o IMD, apenas Venezuela, Argentina, Itália e Polônia contam com governos que ajudam menos a economia a ser competitiva. O Brasil ainda está no último lugar em relação à estrutura institucional, critério que mede a capacidade de gestão da máquina pública. "A queda sistemática do Brasil no ranking nos últimos anos mostra que há uma decepção por parte do empresariado internacional em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou Stephane Garelli, coordenador do estudo.

O ranking, que avalia 61 países e regiões, destaca os Estados Unidos como a economia mais competitiva do mundo, seguido por Cingapura, Islândia e Dinamarca. Entre os países emergentes, o destaque é a China, em 19º, que subiu 12 posições em um ano. A Índia aparece na 29º colocação.

O Brasil, em uma rara combinação, conseguiu piorar em todos os critérios estabelecidos pelo IMD para o ranking. O País caiu dez posições em termos de performance econômica (aparece na 43ª posição). "Um desempenho mais sólido da economia dependerá de mudanças profundas em aspectos distintos", afirma o comunicado do IMD.

A economia doméstica é a penúltima no ranking - caiu 13 posições. O baixo crescimento brasileiro criou um número insuficiente de empregos e não resulta aumento de renda satisfatório. "Foi um ano bom para todos, mas o Brasil só cresceu 2,3%. Com a Venezuela e a Argentina crescendo a 9% e a Colômbia a uma taxa de 4,5%, esperava-se mais do Brasil em 2005", disse Garelli.

Problemas internos de corrupção e transparência do governo afetaram a imagem do País, que passou a ocupar a penúltima colocação no ranking de eficiência do governo, melhor apenas do que a Itália e a Venezuela.

O Brasil ainda ocupa a penúltima posição entre países com pior sistema tributário, a penúltima colocação entre as economias onde o custo do capital é o maior e a penúltima posição entre os países com maior burocracia para abrir empresas. É, ainda, o antepenúltimo em termos de altas de juros.

Para o IMD, o Brasil só não caiu mais graças ao melhor índice de inflação, o desempenho na balança comercial e o baixo custo de vida no País. A redução da dívida pública e o crescimento dos negócios em ações na Bovespa também são fatores positivos. Para Carlos Arruda, economista que participou da elaboração do estudo no Brasil, se o percentual da dívida pública em relação ao PIB continuar em queda, existe a possibilidade de que mudança política de juros ainda em 2006.