Título: BNDES pode ajudar montadoras
Autor: Lu Aiko Otta, Ana Paula Lacerda e Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2006, Economia & Negócios, p. B18

As montadoras poderão ser beneficiadas com ampliação dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com novas regras para receber mais rapidamente seus créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esses foram os principais tópicos discutidos na reunião de ontem entre os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Trabalho, Luiz Marinho e técnicos do Ministério do Desenvolvimento com representantes das montadoras.

Marinho descartou qualquer possibilidade de o governo mudar a política cambial ou reduzir impostos dos carros para compensar a desaceleração das exportações da indústria automobilística. "Não tem mudança no câmbio ou redução de carga tributária", disse.

Na terça-feira, Mantega havia afirmado que estudaria pedido de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), antigo pleito das montadoras. Ontem, a própria Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que esse item não estava na pauta.

O presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, saiu convencido de que o câmbio, principal ponto de reclamação dos exportadores, não será modificado. "O câmbio é flutuante", confirmou ele. Segundo o empresário, não há prazo para que sejam tomadas decisões sobre ajuda do BNDES e liberação dos créditos de exportação do ICMS - conforme prevê a Lei Kandir. Só as montadoras teriam cerca de R$ 3 bilhões retidos.

A indústria automobilística exporta 30% de sua produção, e também pede medidas para aumentar o mercado interno. As discussões entre governo e setor privado começaram depois que a Volkswagen, maior exportadora de carros do País, anunciou na semana passada que promoverá milhares de demissões por causa da perda de contratos de exportação. A empresa não fala em números, mas o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC afirma, com base em dados da montadora, que as dispensas podem atingir quase 6 mil funcionários até 2008.

De acordo com Marinho, o governo pode ampliar a linhas de financiamento do BNDES destinadas à exportação e criar uma linha especial para novos projetos de engenharia. O BNDES poderá cobrar em suas linhas de financiamento menos spread (aquilo que o banco cobra além do juro básico para cobrir seus custos administrativos e a taxa de risco). Poderá, ainda, aumentar o volume dos empréstimos concedidos para financiar produtos a serem exportados. Hoje, eles são de 30% da venda ao exterior. O limite poderá subir para 60%.

Marinho ressaltou que o governo está disposto a estudar medidas que compensem a perda de competitividade causada pelo câmbio também para outros setores. Mas deixou bem claro aos representantes do setor automotivo e ao setor calçadista que não haverá mudança na política cambial.

O ministro do Trabalho ressaltou ainda que é preciso separar a reestruturação que a Volks está realizando mundialmente dos problemas enfrentados pelo setor como um todo.

GREVE

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse que a decretação de greve nas fábricas da Volks é iminente. "A chance de ocorrer é de 99,99%, só não digo a data para ninguém estragar". Na próxima semana haverá passeata com 499 funcionários do Centro de Formação e Estudo da Volkswagen e seus familiares. Estes trabalhadores, segundo Feijóo, são os primeiros da lista de cortes da montadora, que não confirma a informação.

Feijóo retornou ontem da Alemanha, onde participou por três dias da reunião do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen. Sindicalistas brasileiros permaneceram no país. Até amanhã, deve ser decidida uma ação conjunta de protesto entre funcionários da montadora no mundo todo. A companhia também anunciou 20 mil demissões na Europa.

No dia 15, Feijóo vai ao México se reunir com líderes sindicais de outros países como parte da estratégia de traçar plano global de resistência às demissões mundiais.