Título: Família não acredita que acusado tenha atirado pedra
Autor: Lígia Formenti e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2006, Nacional, p. A4

A família do acampado Arildo Joel da Silva, de 21 anos, acusado de ter jogado a pedra que atingiu o coordenador de logística do Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, Normando Rodrigues, recusa-se a acreditar que ele tenha cometido a agressão.

"Jamais", disse o pai do rapaz, Aldo, em entrevista bastante emocionada à TV Oeste, de Cascavel, Paraná. "É meu filho. Não admito uma coisa dessas de ninguém", acentuou, chorando. O rapaz também nega a agressão.

A família mora em Colônia Vitória, no município de Lindoeste, a 540 quilômetros de Curitiba e vizinho de Cascavel, um dos primeiros assentamentos feitos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, e de onde surgiram alguns dos líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST) nas décadas de 80 e 90. Arildo mora com os pais e três irmãos em uma casa de madeira levantada no terreno de 5 alqueires. O pai é agricultor e também trabalha com transporte escolar, enquanto a mãe, Salete, dá aulas em uma escola pública no próprio assentamento.

Como o irmão, Arildo fazia Educação Física no Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná, mas cursou apenas o primeiro período por causa de um acidente de moto.

Considerado trabalhador e tranqüilo pelos que o conhecem, Arildo passou a freqüentar o acampamento do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), que se instalou há cerca de um mês nas proximidades. Segundo a família, por acreditar que era uma oportunidade de conseguir mais terra. O Incra acredita que existam cerca de 200 famílias pertencentes a esse movimento no Paraná, basicamente em acampamentos na região oeste.

Arildo não tem passagens pela polícia. Quando foi convidado para viajar a Brasília, ele comunicou a família. De acordo com o pai, Arildo disse que iria apenas entregar um documento e aproveitaria a oportunidade para conhecer a Capital Federal. A princípio a família foi reticente, alegando que faziam tudo com o acompanhamento do pai ou da mãe. ""Mas se é só para entregar os documentos vá, já que vão os outros", teria dito o pai. Agora, ele não se conforma: "Caiu nessa." Chorando, Aldo resumiu o sentimento da família: "Nós sofremos por ele."