Título: Justiça solta 540, mas deixa presos líderes da invasão
Autor: Lígia Formenti e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2006, Nacional, p. A4

A juíza da 10ª Vara Federal de Brasília, Maria de Fátima de Paula Costa, determinou a libertação de 540 integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra, que foram presos depois de participar da invasão e depredação da Câmara dos Deputados, na terça-feira. Os 42 líderes do movimento, entre eles Bruno Maranhão, não foram beneficiados pela medida. O alvará de soltura foi concedido depois de a juíza receber um ofício do delegado da Polícia Federal Gustavo Cruz Santana em que ele que afirmava não haver elementos para indiciar todos os integrantes do grupo. Ele ponderou, ainda, que os 540 já haviam sido fotografados e identificados.

A saída dos presos do Complexo Penitenciário da Papuda estava prevista para ocorrer à noite. Ela seria feita em oito ônibus de turismo que haviam sido usados para trazer os manifestantes de suas cidades para Brasília. Os ônibus foram até os portões do complexo para a retirada dos presos. Antes de terem a entrada permitida, os veículos foram revistados.

Entre os ônibus usados estava um da empresa B-Tour, que saiu de Imperatriz, no Maranhão, transportando 35 membros do MLST para participar da manifestação na Câmara. O motorista, que se identificou apenas como Filho, contou que a empresa recebeu R$ 7 mil para fazer o transporte. O valor, no entanto, deveria ser alterado, porque o previsto era o grupo voltar na terça-feira, logo depois da manifestação. No veículo dirigido por Filho, contudo, havia uma nota fiscal informando que a empresa havia recebido R$ 1.200 da Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária (Anara), a entidade fundada e comandada por líderes do MLST.

Até o início da noite, não havia informações oficiais sobre qual seria o destino dos manifestantes libertados. Um deles, Aparecido Machado, afirmou que o grupo deveria se dirigir para o Centro de Formação de Trabalhadores do Movimento Sindical, em Luziânia. Antes de sair da Papuda com o grupo, por telefone, ele falou com o Estado: "Fomos humilhados, maltratados", resumiu. "Não somos bandidos, mas trabalhadores." O integrante do movimento culpou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pelo incidente de terça-feira. "Ele é um comunista arrependido. Quem deveria estar preso aqui são os sanguessugas e os mensaleiros", afirmou, numa referência aos dois escândalos que atingiram o Congresso.

Depois da invasão de terça-feira na Câmara, com estragos estimados em R$ 150 mil, integrantes do MLST tiveram três destinos. A maior parte do grupo foi presa. Crianças acompanhadas de suas mães foram levadas a um acampamento do movimento. Outras 29, menores entre 12 e 17 anos, passaram o período num centro para crianças em situação de risco. Os menores somente seriam liberados da instituição com a presença dos pais. A intenção era que, depois da libertação dos presos, os pais das crianças fossem até o centro.