Título: 'Dólar quer ficar perto de R$ 2,25'
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2006, Economia & Negócios, p. B8

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, em São Petersburgo, Rússia , que "o dólar parece querer ficar em torno de R$ 2,25 ou R$ 2,30". Indagado se considera esse o novo nível de estabilidade do real, ele comentou: "Não sei, temos de esperar o fim da turbulência para saber".

Para Mantega - que está na Rússia como convidado para a reunião do grupo dos oito países mais ricos (G-8) -, com as mudanças nas regras cambiais que estão sendo preparadas pelo governo e o fim da turbulência nos mercados, o real deverá ter uma trajetória menos volátil. "Os exportadores poderão fechar o câmbio num nível estável", disse. "Não haverá mais o risco de ir para R$ 2 ou R$ 2,90."

O ministro crê que os mercados mundiais estão passando por uma redução da liquidez causada pela alta de juros nos Estados Unidos. "Quando acabar esse movimento, vai ter menos capital financeiro nos países emergentes", disse.

O fim dessa correção, segundo ele, poderá resultar num real um pouco desvalorizado. "Mas ainda é cedo para saber", disse. Para o ministro, a atual cotação do real "é melhor que a anterior. "Não sei se resolve os problemas (dos exportadores), mas atenua", comentou.

PRAZO Mantega disse que as medidas cambiais poderão ser anunciadas até o fim deste mês, mas admitiu que a recente desvalorização do real diminui a pressão. "É claro que o patamar do dólar mudou e isso deu um alívio aos exportadores, que puderam fechar o câmbio numa situação bem mais favorável, afrouxando um pouco a pressão sob esse ponto de vista", disse Mantega. "Isso tornou menos urgentes as medidas, mas elas continuam válidas."

Ele disse, no entanto, que o governo continua trabalhando com o mesmo empenho na preparação das medidas, que incluem um projeto de lei que altera a cobertura cambial. "É possível que seja apresentado até o final do mês", disse. "Estamos fazendo uma modificação de algo que é secular; há quase um século existe legislação restritiva de fluxo cambial no Brasil, não se deve fazer uma mudança apressada."

O ministro acredita que a atual turbulência nos mercados é passageira e isso justifica a manutenção das propostas. "Se eu tivesse uma avaliação pessimista do cenário internacional, não seria necessário fazer essas mudanças, pois o real seria desvalorizado automaticamente", disse. "Mas essa turbulência é passageira, pois a economia mundial continua muito sólida e temos uma situação muito diferente das crises de 1997, 1998 e do estouro da bolha da internet em 2001."

O ministro observou que, no conjunto de medidas, a principal refere-se à cobertura cambial para os exportadores. "Queremos fazer as coisas de uma maneira transparente', observou. "Tudo que pode ser feito pode ser imaginado pelo mercado: pode-se ampliar o prazo de manutenção dos recursos no exterior e coisas do gênero; medidas óbvias nesse quadro."

TEMA RUSSO O câmbio foi o principal tema da reunião, ontem, entre Mantega e o ministro das Finanças da Rússia, Alexey Kudrin. "Temos alguns problemas comuns, pois o sucesso nas exportações dos dois países colocou uma pressão altista sobre o real e o rublo", disse Mantega.

Segundo ele, Brasil e Rússia adotaram algumas medidas semelhantes para tratar do tema, como o pré-pagamento da dívida externa. "Mas a Rússia tem uma peculiaridade: suas exportações estão concentradas no petróleo, cuja receita está concentrada no Estado. É uma situação mais fácil que a do Brasil, onde as exportações estão pulverizadas."