Título: Desapontado, caminhoneiro vai largar a profissão após 30 anos
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2006, Economia & Negócios, p. B12

Aos 60 anos, metade deles vividos na boléia de caminhões, José Cândido Rodrigues está desanimado. Ele aguarda uma encomenda para poder voltar a Maringá (PR), de onde chegou no meio da semana. "A situação está difícil, não tem carga", reclama. Retornar com o caminhão vazio é prejuízo. "Antes a gente chegava em São Paulo, descarregava, já pegava outra mercadoria e voltava." Agora, a espera média é de dois a três dias e, muita vezes, tem de voltar sem nada.

"Pretendo parar, pois do jeito que está não tem mais saída para o autônomo", diz Rodrigues, que trouxe na viagem o filho Angelo Ribeiro, de 27 anos, para quem deixará o caminhão, um Volvo 1989 adquirido em 36 prestações financiadas pelo Banco Itaú. "Ainda falta um ano para terminar de pagar." O pacote do governo anunciado ontem, o Procaminhoneiro, em nada muda a situação de Rodrigues. Os juros ainda são altos. E não dá para fazer uma dívida grande quando mal consegue manter o caminhão atual. "O pneu tá caro, óleo diesel é um absurdo e os pedágios ficam com quase todo o lucro de uma viagem."

As reclamações dos caminhoneiros - categoria formada por mais de 1 milhão de profissionais, sendo 636 mil autônomos - são parecidas. Escassez de carga, altos custos para manutenção do veículo, pedágios e má qualidade das estradas, que danificam ainda mais os veículos.

"Já está na hora do meu caminhão parar, mas não dá", diz Edilson Mellos, de 36 anos, caminhoneiro desde os 20. O Volvo 1985 foi adquirido há cinco anos em 24 parcelas financiadas pelo BV. O juro de 15% previsto no programa do BNDES "não é dos piores, mas poderia ser menor", diz Mellos. Mas a linha vale só para modelos com até 8 anos de uso.

O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de São Paulo (Sindcam), Norival de Almeida Silva, esperava linha com juro anual de 9%. Segundo ele, o mercado já oferece taxas próximas à 15%. O discurso de renovação da frota é nulo, reforça Silva. A frota atual, de 1,18 milhão de caminhões, tem idade média de 11 anos.

O Procaminhoneiro chega num momento de vendas fracas de caminhões novos. Em relação a 2005, os negócios caíram 12,8%, para 29.682 unidades. Os fabricantes creditam a queda à redução da atividade agrícola e ao aumento de preços, na casa de 20%, para introdução de tecnologias para atender nova fase da legislação ambiental, a Euro III.