Título: Agenda política ignora metrópole
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para André Urani, diretor executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a questão metropolitana é a peça que falta nas agendas de medidas econômicas e sociais das principais forças políticas e tendências ideológicas no Brasil.

Ele acha que o conjunto de reformas e políticas tocadas desde o governo de Fernando Henrique Cardoso - e mantidas e ampliadas, em alguns casos, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - é incompleto porque não aborda formas de intervenção direta, específica e maciça no tecido deteriorado das grandes aglomerações urbanas.Urani sempre apoiou as medidas fiscais, cambiais e antiinflacionárias que levaram ao razoável equilíbrio macroeconômico atual, assim como é um defensor dos programas de transferência de renda como o Bolsa Família.

O problema, porém, é que ele não vê como o País possa acelerar o ritmo de desenvolvimento socioeconômico com o grau de decadência atingido pela periferia das grandes cidades. ¿Durante décadas, as metrópoles foram as locomotivas que empurravam o Brasil, enquanto o resto do País vinha atrás mais lentamente. Agora, o resto do Brasil vai muito melhor e as metrópoles estão patinando, puxando para trás.¿

Apesar de achar que a questão metropolitana tem de entrar no centro das agendas políticas do País, Urani não crê que este seja um problema a ser resolvido com ações única ou majoritariamente de governos, sejam o federal, os estaduais ou os municipais. Ele é um entusiasta da fórmula de reconversão empregada em muitas cidades européias e americanas, na qual o papel central é de agências com participação privada, pública e da sociedade civil.

¿O governo, nos diferentes níveis, tem de ser minoritário¿, alerta Urani. Isto é fundamental porque estes projetos de recuperação urbana têm prazos muito longos, às vezes de décadas, e não podem ficar à mercê das disputas partidárias. Uma típica iniciativa daquele tipo envolve grandes intervenções urbanísticas e arquitetônicas, pesados investimentos em infra-estrutura de tecnologia de informação, retreinamento amplo de mão-de-obra, incentivos a micro, pequenas e médias empresas (muitas vezes com destaque para as de base tecnológica ou de serviços sofisticados como moda, design e turismo), entre outras medidas.

São projetos muito caros que, na Europa, tiveram apoio financeiro decisivo da União Européia ao longo dos últimos anos. No Brasil, para que haja a mobilização de recursos necessários para iniciativas desta magnitude, é preciso forte vontade política dos governos, em todos os níveis, e envolvimento do setor privado e da sociedade civil. ¿Nossas metrópoles são baleias encalhadas, e não adianta alimentar uma baleia encalhada, fazer política industrial de novo; elas precisam ser reinventadas¿, diz o economista.