Título: Ao contrário de 2002, não haverá trégua nas invasões
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A15

Descontente com os resultados da reforma agrária no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o MST pretende manter suas atividades no período eleitoral - ao contrário do que fez em 2002, quando ficou praticamente paralisado. Embora a coordenação nacional não tenha estabelecido nenhuma jornada de invasões, as coordenações estaduais devem programar atividades para os próximos meses, de acordo com a conjuntura de cada região.

Em 25 de julho, quando se comemora o dia do trabalhador rural, o MST deve se juntar à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e à Via Campesina para uma série de protestos contra o agronegócio e as rodadas de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em setembro, no Grito dos Excluídos, puxado pelo Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), serão organizadas manifestações pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce.

De acordo com informações da coordenação nacional, o MST não deve se envolver diretamente no processo eleitoral. "As pessoas ligadas ao movimento poderão apoiar um ou outro candidato, mas em nome delas, porque o movimento não se decidiu por nenhum candidato no primeiro turno", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional.

O descontentamento do MST com o governo Lula foi explicitado mais uma vez por João Pedro Stédile, líder mais conhecido do MST, na entrevista que deu para o livro Leituras da Crise, que foi lançado na semana passada em São Paulo: "É minha obrigação, como militante petista e dirigente do MST, dizer, em relação aos três anos e meio do governo Lula, que o balanço é negativo para os camponeses."

Na opinião de Stédile, o governo tomou medidas favoráveis aos pequenos agricultores, como o aumento do volume de recursos para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a ampliação da assistência técnica. Mas, por outro lado, teria dado mais benefícios "aos latifundiários e ao agronegócio".

Na segunda-feira, ao participar de um debate em São Paulo, Stédile disse que o governo Lula é marcado por contradições e chegou a classificá-lo de "transgênico". Também chamou de "legítimo" o voto no PSOL, da senadora Heloísa Helena (AL), e revelou que torce para que ela tenha uma votação expressiva nas eleições presidenciais. Isso facilitaria uma aproximação com Lula no segundo turno e aumentaria o peso da esquerda num provável segundo mandato.

No mesmo debate, Stédile repisou que os movimentos sociais vivem um momento de refluxo, sem capacidade para empurrar o governo de Lula para a esquerda, deixando-o à mercê das forças neoliberais.