Título: Na Argentina, MST busca aliados contra o agronegócio
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A15

Termina hoje em Buenos Aires o Fórum de Resistência ao Agronegócio, que reúne representantes de ONGs e de movimentos sociais de Brasil, Argentina, Equador, Paraguai e Bolívia. Desde sexta-feira eles analisam as ações dos grandes grupos agroindustriais no continente e tentam definir estratégias comuns para combatê-las, uma vez que estariam ameaçando a sobrevivência de pequenos agricultores.

Entre os brasileiros destacam-se os enviados do Movimento dos Sem-Terra (MST), organização que vê no poder do agronegócio o maior empecilho para a reforma agrária no País. No livro de entrevistas Leituras da Crise, recém-lançado pela Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, o principal articulador do MST, João Pedro Stédile, afirma que o inimigo dos sem-terra não é mais o latifúndio atrasado. Agora, diz ele, é preciso "enfrentar um poder maior, o poder do agronegócio, das transnacionais, do capital internacional e suas alianças internas, como a própria mídia."

Stédile afirma não ser possível democratizar a propriedade da terra no País no por meio da reforma agrária - principal bandeira do MST. Justifica-se dizendo que o neoliberalismo, sintetizado na zona rural pelo agronegócio, teria subordinado todas as formas de produção agrícola às empresas transnacionais e ao capital financeiro, inviabilizando a sobrevivência dos pequenos agricultores.

"A reforma agrária no Brasil não é viável se não for parte de um projeto antineoliberal e antiimperialista", diz. Na prática isso significa que o MST e seus aliados, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Via Campesina, devem continuar fustigando grandes investimentos na zona rural, especialmente os de capital internacional. Faz parte de sua estratégia para atacar o modelo econômico.

Um exemplo desse tipo de atuação foi o que se viu no primeiro semestre com a Aracruz Celulose, que enfrentou problemas com os sem-terra e aliados no Rio Grande do Sul, no Espírito Santo e na Bahia. Além de ocupar propriedades da empresa, o MST procura apresentá-la à opinião pública no Brasil e no exterior como uma ameaça aos recursos naturais - por causa do plantio do eucalipto.

Para o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, as idéias de Stédile são anacrônicas: "Ainda bem que a maioria dos brasileiros não aprova as idéias nem os métodos dele. Todo mundo sabe que sem o agronegócio o Brasil acaba. Estou falando de superávit comercial, PIB, criação de empregos."