Título: Papéis indicam repasses a 15 ex-parlamentares
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A14

Além dos documentos que citam 54 parlamentares, a CPI dos Sanguessugas pode ter à disposição, de imediato, outros que indicam supostos repasses de propina a pelo menos 15 ex-parlamentares, conforme a contabilidade da Planam e de outras empresas ligadas ao esquema. Entre eles estão Ronivon Santiago (PP-AC), que teve o mandato cassado no início do ano, Carlos Rodrigues (PL-RJ), o Bispo Rodrigues, que renunciou, e o ex-senador Carlos Bezerra (PMDB-MT).

A relação de investigados pode crescer com a análise de outros documentos disponíveis no material apreendido pela Polícia Federal. Só com a lista de acompanhamento de emendas para compra de ambulâncias e equipamentos - que é relativa a 2004 e foi encontrada nos computadores da Planam -, o número de parlamentares cuja situação merece esclarecimento pode subir para perto de 90. Parte deles já é citada nas escutas telefônicas realizadas pela PF e nas planilhas da Planam. Nessa lista, 74 deputados, além do senador Ney Suassuna, têm seus nomes associados a um "sim" para o campo "senha". Seria uma referência à senha fornecida pelo Ministério da Saúde para acompanhamento de projetos, privativa das prefeituras.

Segundo autoridades que acompanham as investigações, em vários casos deputados ligados ao esquema pegavam as senhas com prefeitos beneficiários das emendas e as repassavam aos empresários do grupo, para que elaborassem os projetos, incluindo as especificações que lhes conviessem. Há casos, no entanto, em que os empresários obtinham as senhas diretamente com os prefeitos.

A documentação apreendida pela PF também inclui uma lista de "relacionamentos" com 283 parlamentares. Seriam políticos com quem a Planam tinha contato ou interesse em estabelecê-lo.

Os documentos contábeis mostram que a partir de 2004 os empresários se tornaram menos explícitos no registro de repasses financeiros. Supostos pagamentos passam a ser identificados pelo nome de assessores ou apenas pelo primeiro nome, iniciais ou sobrenome do parlamentar, sem expressões como "deputado" ou "dep.", freqüentes no livro-caixa eletrônico relativo às movimentações de 2001 e 2002.