Título: Presidente infla cifras de sua gestão
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva caprichou ontem no uso de uma numeralha para comprovar que seu governo foi melhor que "o deles" - referência à administração do tucano Fernando Henrique Cardoso. Mas acabou deslizando em algumas estatísticas e inflou cifras.

Em seu mais flagrante equívoco, Lula festejou o "superávit comercial de US$ 118,7 bilhões" de sua gestão. A cifra corresponde ao total das exportações - na verdade, de US$ 118,3 bilhões - no ano passado, quando o País obteve saldo positivo recorde de US$ 44,764 bilhões.

Defendeu ainda que, desde janeiro de 2003, "o salário mínimo teve o maior aumento dos últimos 12 anos". Lula argumentou que a inflação baixa, somada à melhor oferta de alimentos e à redução de impostos, causou aumento do poder de compra do trabalhador. Ocultou, porém, o fato de que o mínimo de dezembro de 2006, quando encerra seu mandato, será só 35,7% maior que o valor real pago quando tomou posse. Ou seja, estará aquém da esperança que gerou, em 2002, de elevá-lo em 100%.

Apesar dos acertos ao comparar a geração de empregos do período FHC com sua gestão, Lula escondeu outra distância entre seus acenos como candidato e os resultados que podem ser alcançados. "Já criamos mais de 4 milhões de empregos com carteira assinada, montante superior ao que eles criaram nos seus oito longos anos de inércia", disse, ao destacar total menor que os 10 milhões de postos de trabalho que prometera.

O presidente defendeu ainda que seu governo assentou 260 mil famílias de sem-terra. Há suspeita de que o dado tenha sido inflado por processos iniciados com FHC e de que famílias que viviam em terras invadidas tenham sido incluídas na estatística.