Título: PT no poder mudou discurso de 2002
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2006, Nacional, p. A6

Na reta final de seu mandato, não é pequena a história do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou pelo caminho entre o discurso de campanha de 2002 e o governo. Lula substituiu prioridades, como o Primeiro Emprego, e não foi capaz de executar outras, como a reforma política. A feição de seu governo é consideravelmente distinta daquela que até os petistas imaginavam há 42 meses.

Atropelado pela realidade administrativa e pelo mensalão, Lula sofreu uma metamorfose, e correligionários históricos no PT abandonaram o partido. "Eu tenho a certeza e a convicção de que nenhum momento difícil (...) vai impedir que eu faça as reformas que o povo precisa que sejam feitas", discursou logo que tomou posse.

Das reformas prometidas - política, tributária, da Previdência, agrária e trabalhista -, a que mais avançou, a previdenciária, já exige nova revisão, como sustenta o próprio Lula. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, instalado em 2003, não produziu o consenso esperado para auxiliar na aprovação das reformas.

Fome Zero acabou ofuscado pelo Bolsa-Família, que hoje chega a 9 milhões de famílias e transformou-se na principal marca do governo. Já o Primeiro Emprego não vingou, acabou adaptado em diferentes projetos, como os Consórcios da Juventude. Dos 10 milhões de empregos prometidos em 2002 (o PT insiste em que isso não é verdade), o governo petista alcançou a marca de 4,2 milhões.

A taxa de juros, bombardeada na campanha, pouco recuou em relação ao que sugeria a propaganda petista e virou obsessão do vice José Alencar. "A média de juros da dívida pública em relação ao PIB ficou pouco, cerca de meio ponto porcentual, acima do que foi pago no último mandato do governo FHC", explica o economista Ricardo Carneiro, da Unicamp.

Ganho mais significativo, avalia ele, foi com o salário mínimo. Em termos reais, o aumento é de 20,6% nos três primeiros anos da gestão.