Título: Favoritismo atrai neolulistas
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A9

A cada pesquisa que indica o crescimento da candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumenta a legião de neolulistas que, independentemente do partido, tentam colar sua imagem na do favorito. Entre eles estão velhos e conhecidos ex-inimigos do presidente, como o ex-líder do PMDB Geddel Vieira Lima (BA) e o ex-presidente do Senado Jader Barbalho (PMDB-PA).

Também chama muita atenção entre os neolulistas o ex-deputado Genebaldo Correia (PMDB-BA), um dos anões do orçamento. Depois de ser massacrado em 1994 na CPI dos Anões pelo petista Aloizio Mercadante, hoje candidato ao governo de São Paulo, e José Dirceu, cassado pela Câmara por envolvimento com o mensalão, Genebaldo renunciou. Geddel também foi envolvido no processo dos anões e também sofreu um massacre da dupla Mercadante/Dirceu. O plenário o livrou.

No último dia 20, Genebaldo e Geddel, os neolulistas da Bahia, estenderam faixas para Lula em Santo Amaro da Purificação. Doze anos após a CPI dos Anões, sem Dirceu no caminho e com Mercadante longe, escreveram: "Geddel e Genebaldo saúdam Lula". Presidente do PMDB local, Genebaldo foi chamado de "doutor" por petistas.

"As pessoas se aproximam do presidente, tentam grudar sua imagem nele porque sabem que vai ganhar a eleição", diz o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Ele não defende mais um PT puro, como já fez. "Os apoios são todos muito importantes." Na Bahia dominada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), de fato o apoio do PMDB pode ser fundamental para dar competitividade ao petista Jaques Wagner, que disputa o governo com Paulo Souto (PFL). Depois do escândalo do mensalão, o PT pulou a barreira do pragmatismo que já o marcava no governo. É hoje um partido como outro qualquer.

No Pará, o neolulista é o deputado Jader Barbalho (PMDB), que não chegou a concluir o mandato de senador nem o cargo de presidente do Senado. Denunciado por seu desafeto ACM por envolvimento no desvio de dinheiro público, renunciou. Com o apoio do PT, quer ser eleito novamente governador. Ou senador. Será uma força de Lula no combate ao adversário do PFL.

O avanço dos neolulistas atinge também partidos de oposição. No dia 14, ao lançar a pedra fundamental do Complexo Petroquímico do Rio, Lula fez da cerimônia palanque para ele e a prefeita de São Gonçalo, Aparecida Panicetti, do PFL, que se disse fechada com Lula.

Para o deputado Paulo Delgado (PT-MG), o fenômeno do neolulismo mostra que o sistema eleitoral alcançou o máximo da distorção. "Na política atual de alianças não se aplicam virtudes. Os que se odeiam se aliam e os que têm afinidade não conciliam interesses nem princípios."