Título: Podem vir quentes, diz a candidata do PSOL
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A10

Heloísa Helena chorou muito e fez muita gente chorar ontem à tarde em União dos Palmares (AL), onde há 300 anos o negro Zumbi se refugiou. No lançamento oficial de sua candidatura à Presidência pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), a senadora soltou seu grito de guerra: "Vamos à luta, vamos à vitória, vamos dizer para os farsantes neoliberais e para os representantes do parasitismo político que ousam pensar que são donos do Brasil, vamos dizer que podem vir quente que nós estamos fervendo."

Diante do palanque que dividiu com o vice de sua chapa, o economista César Benjamin, Heloísa Helena encontrou cerca de 600 pessoas dispostas a cantar pelo fim do imperialismo, do latifúndio e da especulação - as palavras de ordem do partido que a senadora fundou depois de romper com o PT.

Ao falar, a senadora não poupou os adversários. "Sei o esforço de todos aqui, militantes que sem o dinheiro público roubado, sem os dólares nas peças íntimas do vestuário masculino, sem AeroLula nem jatinho, sem absolutamente nada, vieram até aqui neste dia tão precioso", discursou.

O esforço, de fato, não foi pequeno. Devido a chuvas torrenciais nos últimos dias, os acessos da região estão em estado precário. O PSOL pretendia fazer o encontro no alto da montanha em que Zumbi se refugiava, mas diante da dificuldade para chegar acabou mudando a reunião para um "palhoção" montado para receber a festa de São João da cidade.

Heloísa Helena foi cumprimentada pelo irmão Hélio, por ex-professoras da Federal de Alagoas, por padres e companheiros de partido. Comovida, retomou a palavra em lágrimas. "Vai ser muito duro enfrentar a estrutura do poder político e econômico", disse. "Eu me orgulho de não ter me vendido nem me acovardado. Onde estiver vou poder olhar de cabeça erguida, porque a minha infância pobre eu soube honrar."