Título: Legenda tem de se renovar, diz analista
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A11

O PSDB ganha se Geraldo Alckmin perder a eleição presidencial, aposta o cientista político Celso Roma, autor da tese de doutorado "A Social-Democracia no Brasil: organização, participação no governo e desempenho eleitoral do PSDB". Ele acha que uma eventual derrota estimularia o debate para ampliar a democracia interna do partido e, ademais, levaria a uma natural renovação de quadros. A vitória, ao contrário, favoreceria a manutenção dos mecanismos internos pouco democráticos.

Para ele, a estrutura interna pela qual o PSDB optou é seu grande problema. A autonomia de ação dos líderes e o abafamento da opinião dos militantes é um formato que sufoca as tendências internas, dá um papel menor à militância e estimula a representação por grandes quadros. Roma lembra que o recente embate entre Geraldo Alckmin e José Serra para escolher o candidato à Presidência quase provocou uma fratura insanável na legenda.

"O partido não tem canais para a solução de conflitos. Tem receio de fazer uma prévia, que seria um mecanismo simples para resolver as pendências de uma forma democrática", aponta. Mas o PSDB forma, com o PT, a dupla polarizada de sólidos partidos brasileiros: "Tem crescido progressivamente no número de deputados estaduais eleitos, pela terceira vez vai polarizar com o PT a eleição presidencial e foi o único grande partido que conseguiu apresentar um candidato competitivo agora", afirma.

Roma diz que a conquista prematura do poder fez o PSDB se despreocupar em dotar-se de uma estrutura interna mais oxigenada. Pesquisa feita por ele mostra que a estrutura pouco democrática favoreceu a adesão fisiológica: um terço dos filiados ao partido aderiu entre 1994 e 1996, no início da primeira gestão FHC.

Roma chama a atenção para o fato de que, ao atingir a maioridade, o PSDB vai iniciar um processo natural de renovação dos quadros que o fundaram. Alguns morreram - Franco Montoro, Mário Covas, José Richa, Sérgio Motta, Afonso Arinos, Magalhães Teixeira; outros estão a caminho da aposentadoria política, como Fernando Henrique. "O PSDB vai ter de cuidar de sua juventude, fonte natural de formação de quadros", diz.