Título: Aos 18 anos, PSDB busca atualização
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2006, Nacional, p. A11

O Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), que quase se chamou PDP (Partido Democrático Popular), completa hoje 18 anos e chega à maioridade como único partido brasileiro - além de seu grande rival, o PT - a disputar todas as eleições presidenciais diretas contemporâneas. Nasceu na oposição, criado para ficar "longe das benesses oficiais e perto do pulsar das ruas", mas ganhou a segunda eleição que disputou e agora é novamente oposição sem nunca ter atualizado suas idéias, uma queixa recorrente de seus militantes.

O PSDB nasceu forte em São Paulo e nunca superou o estigma de ser "um partido paulista", embora tenha chegado ao poder em Estados de todas as cinco regiões brasileiras. Mas na verdade começou a nascer popularíssimo, num escritório modesto da Avenida São João; sua primeira grande reunião foi no restaurante "Torre de Babel", em pleno Bexiga, bairro italiano de São Paulo.

Vive paradoxos: é chamado de "acadêmico", mas o ex-prefeito José Serra assegura que só ele e Fernando Henrique vieram da universidade. Nas primeiras reuniões, lembra Serra, idéias como equilíbrio fiscal e importância das exportações e do mercado soavam "estranhas" para muitos. "Estou convencido de que a alma do PSDB encara o mercado como instrumento de desenvolvimento, e não como tutor da sociedade", recorda.

ESPERANÇA

Algumas das 109 pessoas que assinaram, cheios de esperança, a ata de criação da legenda, saíram mais tarde. "Era uma opção partidária para avançar", reconhece hoje o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje presidente do Senado. Já o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) diz que o PSDB "ainda tem figuras interessantes". "Mas não acredito no projeto deles", afirma.

O atual secretário-geral, deputado Eduardo Paes (RJ), que virou tucano depois de eleger-se pelo PFL, em 2002, qualifica o PSDB como "um partido de centro, moderno, reformador, que entende que o Estado não deve estar presente em todas as áreas". Primeiro secretário-geral e primeiro líder na Câmara, Euclides Scalco (PR), hoje longe do Congresso, admite que o partido já não é o mesmo que atraiu as expectativas da esquerda, em 1988; e culpa os oito anos de governo, quando inchou artificialmente com a adesão de parlamentares que queriam estar próximos do poder.

Curiosamente, a crítica é rebatida por outro fundador, o gaúcho José Paulo Bisol, que concorreu a vice-presidente na chapa de Lula em 1994 e ainda é filiado ao PT, embora afastado da política. "O PSDB é um partido de esquerda, simpático, razoavelmente puro, coerente consigo mesmo e que tem excelentes figuras", observa. Ele diz que o PSDB é um partido de quadros com dificuldade para ser popular. "Mas isso ajuda à fidelidade, a manter as idéias."

O candidato Geraldo Alckmin diz que o PSDB chegou rapidamente ao poder. "Há 18 anos eu digo que o PSDB precisa comer mais poeira." Mesmo assim ele ressalta que o partido tem propostas, uma visão moderna do Estado e bons quadros. "O importante é que, onde governa, faz bom governo."

O ex-deputado Carlos Mosconi (MG), outro fundador, até hoje no partido, afirma que o partido precisa se popularizar, "sem cair no populismo". "O PSDB parece conformado em ser um partido de quadros, voltado para o Parlamento", observa. Ele cobra um congresso político para atualizar o programa partidário. Paes concorda: "O mundo mudou muito de lá para cá. Precisamos rever as idéias."

O ex-deputado Nelton Friedrich, hoje no PV, lembra que o PSDB atraiu muitos deputados de esquerda que queriam consolidar sua atuação na Constituinte e sua insatisfação com o governo José Sarney. "Mas na primeira reunião para discutir a eleição de 1989 já tinha dissidência", comenta.

Serra lista o que, a seu juízo, foram contribuições do PSDB: "A idéia da responsabilidade fiscal, a criação da rede de proteção social, a introdução de novas formas de interferência do Estado na economia, por meio de agências reguladoras, e a prática da tolerância nas relações políticas." Mas ele reconhece que faltou apostar numa reforma política profunda.

O deputado Custódio Mattos (MG), também fundador, defende a revisão do programa, mas frisa que o partido hoje é mais homogêneo do que no fim do governo FHC, quando ainda era integrado por grupos fisiológicos que tinham aderido durante o governo FHC.