Título: SP teve 117 mortos à bala só no dia 15
Autor: Camilla Rigi
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Metrópole, p. C1

A segunda-feira, 15 de maio, dia em que a capital parou por medo dos ataques do Primeiro Comando da Capital, foi também o dia mais violento na guerra do PCC. Relatório do Conselho Regional de Medicina (CRM), divulgado ontem, mostrou que 117 pessoas foram mortas à bala no Estado no dia 15, 40 delas só na capital. O número é 5,8 vezes superior à média diária desse tipo de ocorrência. De 12 a 20 de maio houve 492 mortos por arma de fogo - o dado inclui crimes comuns. "Teve vítima que levou 22 tiros", disse o presidente do CRM, Desiré Callegari.

O CRM fez o relatório com base em dados de 23 unidades do Instituto Médico-Legal e o entregou ontem aos Ministérios Públicos Estadual e Federal e à Defensoria Pública. O documento inclui um ranking das mortes por municípios - liderado pela capital (163 casos), Guarulhos (54) e Guarujá (29).

"Não me lembro de nenhuma situação parecida com esta", disse o presidente do conselho, Desiré Callegari. Ele usou o termo "catástrofe" para se referir ao número de mortes contabilizadas no período. Mas não quis atribuir os casos diretamente aos ataques do PCC. "É preciso deixar claro que entre esses mortos estão suicidas e vítimas de crimes entre civis." Dos 492 mortos, 37 não haviam sido identificados até ontem. Não se sabe ainda o local onde morreram nove vítimas.

Outro dado que chamou a atenção no balanço do CRM foi a média de tiros por vítima. Só na capital, no dia 13, quando foram mortas 23 pessoas, a média foi de 6,9 tiros. Mesmo assim, Callegari não quis confirmar se há indícios de execução em alguns casos. "Fizemos o apontamento de bairros e municípios, o que deve ajudar o MP a encontrar testemunhas para confrontar com outras informações dos inquéritos."

O relatório tem 1.500 páginas com nomes das vítimas, cidade onde foram registradas as mortes, data, número de tiros e cópia de todos os laudos necroscópicos. No dia 20, a Câmara Técnica de Médicos Legistas se reúne para fazer a análise qualitativa, com as possíveis trajetórias das balas, a distância com que os disparos foram efetuados e em que regiões do corpo.

Dos 645 municípios paulistas, 45 tiveram ao menos uma morte por arma de fogo entre os dias 12 e 20. Nem CRM nem Defensoria contaram quantas das 492 vítimas morreram em confronto com a polícia, dado que consta de alguns laudos. "Vamos focar na capital antes", disse o defensor Pedro Giberti.