Título: Entidades vão pedir saída de Saulo
Autor: Adriana Carranca
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Metrópole, p. C3

Entidades de direitos humanos vão pedir ao governador Cláudio Lembo a saída do secretário de Segurança Pública, Saulo Abreu. A campanha será encabeçada pela Comissão Especial Independente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), formada por representantes de entidades e órgãos públicos, e pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos. Eles se reuniram ontem com os promotores de Justiça Neudival Mascarenhas e Marcelo Oliveira, que foram designados pelo procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, para acompanhar as investigações sobre as mortes ocorridas entre 12 e 20 de maio.

A comissão recebeu, ontem, das mãos dos promotores, os laudos das 122 mortes ocorridas em confronto com a polícia nesse período, e que haviam sido entregues ao Ministério Público pela Secretaria de Segurança Pública. A comissão também teve acesso ao material referente às 492 mortes à bala, levantadas pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), nos 23 IMLs da cidade. "São 492 pessoas mortas e, um mês depois do ocorrido, não temos, até agora, nada conclusivo da Secretaria de Segurança. Dada a dimensão do problema, consideramos que o sr. Saulo não tem condições de permanecer à frente da Secretaria de Segurança Pública", diz o presidente do Condepe, Frederico dos Santos.

Sobre a afirmação do governador Lembo, de que está satisfeito com o secretário de Segurança, Santos foi enfático: "O governador pode estar satisfeito, mas a sociedade civil organizada e as entidades defensoras dos direitos humanos não estão satisfeitas com a atuação de Saulo. Isso não apenas durante os ataques do PCC, mas há anos que não estamos de acordo com a postura de Saulo frente à secretaria." Santos definiu o secretário como uma pessoa incapaz de conduzir a principal Secretaria de Segurança do País. "Vamos pedir audiência com o governador para solicitar o afastamento do secretário."

O presidente do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, também informou que as entidades vão organizar atos públicos pela saída do secretário, "pela postura truculenta de arrogância e de sonegar informações" à sociedade. "Pediremos que Saulo seja afastado."

A Secretaria de Segurança informou que não se pronunciará em relação ao pedido de afastamento do secretário e que todos os dados que foram requeridos estão sendo disponibilizados para o Ministério Público, não havendo sonegação de informações.

Os promotores Mascarenhas e Oliveira saíram pela porta dos fundos da sala onde foi a reunião, sem falar com a imprensa. Eles apenas entregaram o material da Secretaria de Segurança sobre as 122 mortes em confronto com a polícia, sem dar informações sobre como estão as investigações do Ministério Público. Mais tarde, os promotores informaram, por meio da Assessoria de Imprensa, que não vão antecipar conclusões sobre as investigações, enquanto não estiver pronto o cruzamento das informações dos boletins de ocorrência, laudos do IML e inquéritos policiais das 122 mortes informadas pela secretaria e das 492 levantadas pelo CRM.

O ouvidor da Polícia, Antônio Funari Filho, disse que nesta última semana aumentou o número de mortes de autoria desconhecida de 49 para 52. E que a Ouvidoria deve acompanhar esses casos, uma vez que a Secretaria de Segurança nem mesmo os relacionou aos ataques do PCC.