Título: De sábado até ontem, 52 vôos cancelados
Autor: Alberto Komatsu e Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Desde sábado, foram cancelados 52 vôos da Varig: 16 a cada dia no fim de semana e ontem, mais 20. Em nota oficial divulgada no início da noite de ontem, a companhia confirmou os cancelamentos, mas procurou dar um ar de "normalidade" às operações suspensas, ressaltando que faz diariamente 180 vôos domésticos e internacionais.

No comunicado, a empresa atribuiu os cortes à "necessidade de manutenção de aeronaves e também às más condições climáticas nos aeroportos de Foz do Iguaçu, Florianópolis e Salvador, onde forte chuva interrompeu a operação de todas as companhias aéreas".

Apesar de a empresa preferir não dar maior destaque à redução de quase 10% em seus vôos durante três dias consecutivos, o fato é que a crise da Varig já atinge e prejudica os usuários. Ontem, os quatro vôos internacionais cancelados ligavam Rio e São Paulo a Buenos Aires, na Argentina.

O atraso na liberação de duas aeronaves que estavam em manutenção causou a suspensão de quatro vôos na ponte aérea Rio-São Paulo-Rio nas primeiras horas da manhã, quando é registrado o pico de movimento.

Os horários da rota só foram retomados a partir das 10 horas. Segundo Edevaldo Chechetto, gerente da Varig no Aeroporto de Congonhas, os cancelamentos fazem parte da rotina e não têm relação com a crise da empresa. "Não houve maiores problemas para os passageiros cujos vôos foram cancelados, pois conseguiram embarcar por outras companhias."

QUADRILHA

Nos balcões da Varig no Aeroporto de Congonhas, poucos passageiros embarcavam na tarde de ontem. Bem diferente da vizinha TAM, onde os funcionários aproveitavam o clima que antecede o jogo do Brasil para dançar quadrilha, sob os olhos atônitos dos passageiros.

Os poucos passageiros dos vôos da Varig mostravam apreensão quanto à definição do futuro da companhia aérea. "Estou arrasado com essa crise da Varig. Essa empresa é uma mãe para quem viaja para o exterior, é uma referência de Brasil", dizia exaltado Amin Khader, repórter do programa do humorista Tom Cavalcante. "Eu daria minhas milhas para ajudar a salvar a empresa." Ao seu lado, a dançarina Adriana BomBom lamentava a falência iminente da companhia aérea. "Acho que é a última vez que vôo pela Varig."

Apesar dos cancelamentos e atrasos ocorridos ontem e no fim de semana, havia calma entre os passageiros no embarque. O analista de sistemas Pedro Luiz Clé teve problemas em um vôo Brasília-São Paulo, que partiu com duas horas e meia de atraso. Ele viaja a trabalho pelo menos uma vez por mês, e tem optado pela Varig por causa dos melhores preços. "Antes a Gol era mais barata, mas acho que a crise fez a Varig baixar as tarifas."

Cláudio Halley, gerente de Administração de Redes, também torce por uma saída para a companhia. "A recuperação da Varig é saudável para o mercado, para evitar a concentração nas mãos de apenas duas empresas."