Título: Juiz adia de novo decisão sobre a Varig e TAP volta a entrar no páreo
Autor: Alberto Komatsu e Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Justiça do Rio adiou ontem, pela terceira vez em menos de uma semana, a decisão sobre o vencedor do leilão da Varig. O juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pela recuperação judicial da companhia, homologou, sob condições, a proposta do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), a única apresentada.

O grupo não esclareceu a origem do dinheiro que usará para pagar pela empresa. O juiz concedeu mais 48 horas para o detalhamento da proposta e não descartou a realização de um novo leilão. Ontem, num dia agitado para os envolvidos no caso, a portuguesa TAP reapareceu disposta a estudar novamente o investimento na companhia.

Ayoub quer saber de onde virá o dinheiro oferecido pelo TGV, grupo formado por associações de trabalhadores sem patrimônio ou faturamento para bancar o leilão. Participou da concorrência por meio da empresa NV (sigla de Nova Varig) Participações.

O juiz pede informações, principalmente, sobre os R$ 285 milhões que seriam pagos à vista e em dinheiro, por meio de um investidor estrangeiro cuja identidade é mantida em segredo. O TGV não revela o nome nem mesmo à Justiça.

Da proposta de R$ 1,010 bilhão, o juiz também quer mais esclarecimentos sobre o plano de pagar R$ 500 milhões em papéis de dívida (debêntures)lastreados na previsão de lucro da empresa resultante da reestruturação da Varig. "Quero que eles (TGV) me convençam dos créditos e se aquilo (debêntures) atende às necessidades da empresa", afirmou Ayoub.

INTERESSE

Durante todo o dia de ontem, o presidente da estatal portuguesa de aviação TAP, Fernando Pinto, esteve reunido com executivos da Varig. Há rumores de que Pinto, ex-presidente da Varig, estaria formando um consórcio com empresas como Air Canada e o fundo de investimentos canadense Brookfield para compor uma proposta pela empresa.

O plano alternativo da TAP, contam fontes, poderia ser inserido na oferta feita pelo TGV. A Justiça do Rio deixou em aberto essa possibilidade, já que o juiz Ayoub chegou a relatar ontem que qualquer nova proposta não necessariamente devia ser feita por meio de uma associação ou parceria com o TGV, mas que esse era um dos caminhos.

Na manhã de ontem, fontes do mercado informaram que Pinto esteve reunido com o reestruturador da Varig, Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal, para costurar uma proposta alternativa.

O presidente da TAP confirmou ao Estado que teve um encontro com Gomes, "mas para saber e entender a situação atual da Varig". O executivo não descartou que poderia reapresentar um novo plano de investimento, caso a Justiça do Rio não homologue a oferta feita pelos trabalhadores da companhia. "Daí, nós vamos reestudar", disse Pinto.

A Varig negou oficialmente a visita de Fernando Pinto à sede da empresa. Fontes da companhia, no entanto, viram o executivo nas dependências do prédio. O coordenador do TGV, Márcio Marsillac, teve reunião na Varig e saiu do local por volta das 18 horas de ontem, mas não confirmou a reunião com Pinto para a eventual costura de um plano conjunto.

A Air Canada já participou da recuperação da US Airways, que enfrentou crise financeira nos últimos anos, segundo informação do consultor de aviação Paulo Roberto Bittencourt Sampaio. "Fazer isso com a Varig seria a repetição do que já fez, com sucesso, nos Estados Unidos", disse ele.

Sampaio explicou que a Air Canada injetou dinheiro na US Airways e agora está vendendo ações da empresa. Segundo ele, esses recursos que a companhia canadense está colocando no caixa poderiam até ser utilizados em uma eventual operação na Varig.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, informou que recebeu com naturalidade a decisão de Ayoub. Sobre os problemas com cancelamento de vôos desde o fim de semana, ele garante que as operações continuarão normais até quarta-feira.

"A VARIG manterá seus 180 vôos diários para rotas nacionais e internacionais. Os cancelamentos de vôos neste fim de semana deveram-se à adequação da frota à demanda e a motivos comuns no mercado, entre eles condições climáticas e manutenção de aeronaves".

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, também passou o dia no Rio, em reuniões na sede do DAC e do Instituto de Aviação Civil, que se estenderam da manhã à noite, mas não foi revelado o teor das discussões.