Título: Batismo sem fogo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Nacional, p. A8

À exceção do nome pelo qual pretende seja chamado seu candidato - conhecido como Alckmin, mas lançado oficialmente como Geraldo -, o conceito por trás da convenção do PSDB que oficializou Geraldo Alckmin para a disputa à Presidência da República revelou peso e medida, com mensagens de fácil compreensão e alvos certos a serem atingidos.

A começar pelo local: Belo Horizonte, a capital do segundo colégio eleitoral do País, onde Alckmin está mal nas pesquisas, Estado onde o PSDB tem seu político mais bem avaliado, o governador Aécio Neves, e região sem o apoio da qual, avaliam os especialistas, a oposição não poderá sonhar em ganhar de Lula a eleição.

Não por acaso também, o candidato abriu seu discurso saudando as mulheres, um público menos suscetível a seu adversário, como mostram as pesquisas. Daí em diante o que se viu foi uma convenção técnica, com lances elaborados à imagem e semelhança das necessidades prementes.

Da mesa composta por tucanos e pefelistas, para denotar unidade, à cena final com direito a chuva de papelotes, frase forte - "Onde está o chefe dos 40 ladrões" - para rechear as manchetes e candidato e anfitrião (Aécio Neves) carregados nos ombros para propiciar às lentes um cenário de empolgação.

Só ficou sem explicação o vestido de bandeira brasileira estilizada exibido por Lu Alckmin - era evidente a tentativa de proporcionar uma "leitura" ao público, mas não foi possível desvendar o enigma - e a trilha sonora de encerramento com Zeca Pagodinho cantando (em gravação) Deixa a Vida me Levar, música da predileção de Lula, de quem o autor é assumido admirador.

Teriam os tucanos pretendido insinuar possível troca de posição, a exemplo da troca de cervejaria tempos atrás? A mensagem, se é que havia, também ficou obscura.

De todo modo, não foi uma conversa de palanque. Não houve espontaneidade nem frisson eleitoral. O longo discurso de Geraldo Alckmin, quase uma hora de "conteúdo" programático, soou algo maçante para ouvidos em busca de exuberâncias oratórias.

Mas é fato também que a cerimônia não foi concebida para despertar fascinação nos convencionais, presentes ali para cumprir a tarefa partidária de homologar a candidatura única de um político que não se pretende - nem poderia pretender-se - carismático.

O plano era abrir espaço ao candidato para que ele apresentasse à Nação suas credenciais como postulante à Presidência. E isso Alckmin (ou Geraldo) fez.

Concentrou o foco na idéia-força "menos impostos e mais investimentos", apresentou um diagnóstico das deficiências do governo Lula, listou providências para melhorar os sistemas de saúde e educação públicas, deu as linhas de um programa de segurança, defendeu pontos objetivos pelos quais pretende iniciar a reforma política (fidelidade partidária e voto distrital misto), prometeu reduzir gastos com custeio da máquina e programou até a primeira medida de impacto publicitário: a extinção de 12 ministérios.

Passeou pelo tema corrupção - "Indulgência zero, a começar pelos políticos" -, não se esqueceu de assegurar a continuidade "e melhoria" dos programas assistenciais, fez concessão à utopia ao prometer o fim das "barganhas políticas", anunciou mudança de rumo na política externa, posicionou-se contra o Estado meramente regulador e terminou falando em valores.

"O povo não é corrupto nem cínico, o presidente também não pode ser", disse numa das poucas referências ao oponente, numa clara estratégia de não fazer de Lula o personagem principal de seu discurso nem de sua campanha.

Pelo visto na convenção, Geraldo (ou Alckmin) deixará os ataques diretos a cargo dos correligionários e optará por falar mais de si, a fim de tentar que o eleitorado se anime a pensar nele.

A bem do sucesso do plano, porém, conviria à aliança PSDB-PFL se decidir como, afinal, batizará o candidato.

Contraditório

Diante da manifestação em massa, mais prático responder também de uma só vez aos leitores que escreveram protestando contra o reparo feito à resposta do jogador Ronaldo ao presidente Lula.

Todos - até os assíduos "concordantes" - discordaram da opinião de que o jogador havia sido mal-educado ao rebater a referência ao excesso de peso com a alusão à abundância etílica.

Em resumo, acham que Lula disse o que quis e ouviu o que não quis, como convém a quem fala demais.

Neste aspecto estamos de acordo. Só não estamos em relação à adoção da lógica do olho por olho como tese de defesa.

Zero a zero

Chegou a ser cogitada entre a comissão técnica a hipótese do corte de Ronaldo do primeiro jogo do Brasil, como forma de desagravo ao presidente da República.

O capitão Cafu deu o contra e argumentou: constrangimento por constrangimento, Zagallo também criou ao dizer na fatídica videoconferência que 13, o dia do jogo, era também o número do PT e símbolo da "vitória".

Com isso, Cafu salvou o Brasil de um vexame sem precedentes.