Título: México apóia Brasil na ONU
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2006, Nacional, p. A13

Ao retomar sua campanha por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil conseguiu ontem um discreto e inesperado apoio. Ferrenho opositor à ambição brasileira nos últimos anos, o México declarou-se favorável à inclusão do Brasil no grupo que delibera sobre as questões mais agudas da política internacional - desde que seja o escolhido pela América Latina para representar a região.

"México e Brasil coincidem em quase todos os temas da reforma, exceto em uma variável: o México defende a proposta de que no Conselho de Segurança sejam definidas cadeiras para regiões, não para um país particularmente", declarou o ministro de Relações Exteriores mexicano, Luiz Ernesto Derbez, logo depois de uma reunião de trabalho no Itamaraty. "Se esta for a reforma aprovada, o México não teria nenhuma ressalva a que o Brasil venha a ocupar essa posição, com base em contínuas eleições", completou.

MAIS 'SAUDÁVEL'

Ao lado do chanceler brasileiro, Celso Amorim, Derbez argumentou que um representante latino-americano - em vez de uma nação específica - teria melhores condições para enfrentar as pressões dos demais membros permanentes em votações delicadas. O ministro lembrou que o México e o Chile passaram por essa situação quando eram membros não permanentes do conselho - nos biênios 2002-2003, no caso mexicano, e 2003-2004, no caso chileno, épocas de decisões difíceis sobre as invasões americanas no Afeganistão e no Iraque. O formato regional, na opinião de Derbez, seria mais "saudável".

Amorim aproveitou de imediato a posição mais flexível do México. Insistiu em que as diferenças que restam entre suas posições e as do Brasil são "muito sutis" e se comprometeu a criar mecanismos institucionais de consultas aos países da América Latina e do Caribe, se o Brasil alcançar sua ambição.

Mas advertiu que uma reforma baseada no conceito de representantes regionais, e não nacionais, levaria a uma necessária alteração mais profunda na Carta de São Francisco, uma espécie de Constituição das Nações Unidas, firmada em 1945. Esse objetivo, acrescentou Amorim, será inevitável ao longo do tempo e tem o apoio do Brasil, mas a pressa na reforma do conselho é maior.

"Se o Brasil for escolhido como membro permanente, eu não vou fazer questão de pôr uma plaquinha dizendo que o Brasil está aqui a título nacional ou a título regional", afirmou. "Nós sempre dissemos que, se por acaso o Brasil vier a ingressar no Conselho de Segurança de forma mais permanente, nós sempre faremos isso ouvindo a América Latina e o Caribe."

ASSEMBLÉIA

Em visita de trabalho ao Brasil e a outros países do Cone Sul, Derbez assinalou essa posição justamente no momento em que o governo brasileiro retoma a campanha pela vaga permanente no Conselho de Segurança. A mobilização está voltada para a próxima sessão de abertura da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em setembro, quando o tema da reforma da ONU e do Conselho de Segurança deve voltar à pauta.

Na sexta-feira, na reunião de Cúpula França-Reino Unido, em Paris, o presidente francês, Jacques Chirac, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reiteraram seus compromissos com a ampliação do Conselho de Segurança e "a continuidade de seu apoio ao Brasil, Alemanha, Índia e Japão como futuros membros permanentes", assim como à África. Na semana passada, o governo brasileiro havia obtido a confirmação do apoio do Chile à sua ambição. Mas, só na América Latina, o Brasil continua a enfrentar a resistência da Argentina e da Colômbia.